Um beijo
odeteronchibaltazar
O que faltava naquele beijo?
Tinha a cor das manhãs,
o cheiro do café coado na hora
e a maciez das cobertas em dia de frio.
Era um beijo com jeito de roubado,
presente em papel de seda embrulhado
e muito laço de fita.
Um beijo com gosto de dia de folga,
sabor de batata frita.
Mais que um beijo,
era a satisfação do desejo.
Era mais que um toque de lábios e línguas,
ou troca de sumos e sucos, afinal.
Era a penetração de almas em gozo.
Era puro êxtase,
tesouro precioso...
Só faltava ser real.
odeteronchibaltazar
domingo, dezembro 10, 2006
sábado, dezembro 09, 2006
Desencanto
desencanto
odeteronchibaltazar
Desencanto
soa triste neste canto adormecido
em meio às dores minhas.
Desencanto voa
na ponta deste pensamento
que, de tão lido,
faz-se verbo
e habita meus escuros,
revira meus escritos,
bagunça minha lida.
Desencanto
quer meu pranto,
Desencanto
quer a minha vida.
odeteronchibaltazar
terça-feira, dezembro 05, 2006
Se necessário
Porque não conseguia esquecê-lo um só minuto e ficava em desassossego, tomou um Valium.
Agora poderia pensar nele sem sofrer,
posto que a distância e a ausência ficariam em névoas sem machucar.
Assim, todos os dias, acostumou-se a engolir em seco sua frustração.
E a vida prosseguiu em calmarias de superfície.
odeteronchibaltazar
Agora poderia pensar nele sem sofrer,
posto que a distância e a ausência ficariam em névoas sem machucar.
Assim, todos os dias, acostumou-se a engolir em seco sua frustração.
E a vida prosseguiu em calmarias de superfície.
odeteronchibaltazar
sexta-feira, outubro 27, 2006
Em preto & branco
Na tarde silenciosa busquei qualquer coisa que denunciasse tua passagem em meus dias, mas não encontrei sequer uma linha, uma pontinha de algum fio que marcasse teus rastros. Nada. Tudo em branco, tudo na mais perfeita solidão.
Não sei se ainda busco te encontrar para aliviar minha saudade ou se é apenas costume de procurar-te entre minhas lembranças que já nem são tão claras assim.
Guardo-te mais uma vez bem escondido de mim. Lá ficarás até que eu decida que minha vida precisa de mais cor. Por enquanto sigo em preto-e-branco.
Não sei se ainda busco te encontrar para aliviar minha saudade ou se é apenas costume de procurar-te entre minhas lembranças que já nem são tão claras assim.
Guardo-te mais uma vez bem escondido de mim. Lá ficarás até que eu decida que minha vida precisa de mais cor. Por enquanto sigo em preto-e-branco.
domingo, outubro 22, 2006
Lique_feito
sábado, outubro 21, 2006
Ilusionismos
quarta-feira, outubro 18, 2006
Entre esperas e versos
Entre esperas e versos
Ao te querer fico em esperas infindas...
Ao te esperar, choro nos meus versos tontos.
Tivesse eu outras vidas
por certo iria viver contigo os meus sonhos... tantos!
Ao te esperar, vejo-me a seguir dia a dia os teus passos
e tenho com teu coração um só compasso.
Ao te amar, desfio rosários em segredo
e o teu nome em oração
desfaz-me todos os medos.
Por favor, ouve minha prece.
Atende o chamado deste coração que teu amor tece.
E nas minhas mãos, em oração,
lê o caminho por onde me leva esta bendita paixão.
odeteronchibaltazar
domingo, outubro 01, 2006
Entre silêncios e ausências
Entre silêncios e ausências
odeteronchibaltazar
Este silêncio que nasce da tua ausência
faz-me solitária palavra na boca do poeta
querendo voar.
Sinto cada nota que sai
desta triste melodia
e embala os meus dias de sonhar.
Não fossem minha pobres rimas
estaria entre meus escritos
inutilmente a suspirar.
Sei que desta fantasia nada terei
a não ser vãs esperas
em busca do sol, de estrelas e do luar.
odeteronchibaltazar
quinta-feira, setembro 14, 2006
Descaminhos (Miniconto)
Descaminhos
odeteronchibaltazar
Foram tantos os anos que passaram que havia perdido as esperanças de reencontrá-lo. Já nem fazia mais questão. A juventude se fora. Os filhos estavam criados. A aposentadoria, à porta. Os financiamentos, quitados. Os sonhos, arquivados. As rugas faziam caminhos no seu rosto e ela se sentia uma tonta ao chorar enquanto ouvia as músicas daqueles dias. Quase ridícula. Com os olhos marejados olhava-se no espelho, esperando ver a jovem irremediavelmente apaixonada de tanto tempo atrás. Não conseguia mais lembrar do rosto dele, nem do sorriso que pintava em seu rosto nas noites em que fugiam do mundo. O tempo apagara o eco daquela voz a sussurar coisas de amor e planos impossíveis. Só não conseguira apagar a dor da ausência e o gosto da saudade que insistira em morar em sua vida. E embora o tempo e a distância tenham sido a sua companhia, aquele amor ficara escrito na sua pele de maneira definitiva e nunca pôde amar de novo tão loucamente como amara. Chorou por tudo que deixou passar. Chorou por tudo que optou.
Finalmente chorou...
odeteronchibaltazar
terça-feira, setembro 12, 2006
quarta-feira, julho 12, 2006
Recadinhos by odete
Recadinhos by odete
És somente palavras
e mesmo assim tocas minha alma
com as pontas dos dedos.
E te transformas em verbos
nos beijos nunca dados,
no carinho não concretizado.
E mesmo assim
és real em minha boca...
tanto ou mais
que aqueles que estão ao meu lado.
********
Te amar é como ter chuva e sol,
estar no paraíso e no inferno
é ter verão e inverno,
é chorar demais,
é rir sempre mais e mais...
Te amar é alegria todos os dias.
Te amar é tristeza quando não estás.
Te amar é sofrer,
te amar é rir contigo.
É voltar a ser,
é ter sempre um ombro amigo.
E se existe um céu,
por certo estarei no inferno,
se não tiver,
ainda hoje,
com todo o teu carinho
o mais quente beijo teu.
******
Sou nuvem passageira,
sou água,
sou vulcão.
Faço tempestades em copo d'água,
sou lenha em tição.
Falo alto,
me agito,
deixo marcas de montão.
Quem me conhece,
não me esquece.
Marco em brasa um coração...
Agora me responda rapidinho:
É sim ou não?
********
Dizer que te amo
é repetir-me
em palavras
em pensamentos
em atos
e coração.
Dizer que te desejo
é gritar
meu segredo
aos quatro cantos
do mundo,
é te querer em oração.
Dizer que te quero
é repetir-me
em desejos
em amor
em adoração...
******
A você,
que me faz vibrar em cada dia que aparece,
eu mando os meus beijos
embrulhados no mais puro amor.
A você,
que me faz rir em cada dia que amanhece,
eu mando o meu carinho
embrulhado em transparente paixão.
A você,
que me segreda a vida inteira,
em versos cheios de cor,
eu mando inteirinho o meu coração.
*********
Se vens em músicas,
chegas em mim com carinhos
pelo ar dispersos.
Se me apareces com flores,
esqueço tristezas,
enxugo lágrimas,
somem as minhas dores.
Calientes e deliciosas,
tuas linhas,
puros versos
a encantar-me os dias,
dão-me novo alento,
e correndo ao teu encontro,
dou asas a tantas fantasias
que descubro-me,
de novo,
a sonhar,
a sorrir,
a brincar.
São tantas as afinidades,
tantas as coincidências,
que aceito tua chegada
como se foras um anjo a entrar em meus dias.
E agradeço ao céu por permitir
que eu tenha,
ainda hoje,
tão belas fantasias...
terça-feira, junho 13, 2006
Paixão
Somente tua
odeteronchibaltazar
Faço malabarismos
à procura de espaço
para meu desejo,
nua,
à espera
de tuas vertentes.
E umedeço
minha boca,
à deriva de teus beijos.
Nas fantasias
e no meu lirismo
sou tão somente
tua.
Mas ao nascer do dia,
já não sei se poderei,
como louca,
ir ao teu encontro
ou permanecer aqui...
... em calmarias.
odeteronchibaltazar
*********
Gestual
odeteronchibaltazar
Passeias tuas mãos
em minhas águas calmas,
levas teus desejos
e me convidas
a pintar de cores fortes
o preto-e-branco
do sossego.
Se em aquarelas me deito
em telas vibrantes
me viras,
desviras,
reviras
e me acolhes na tua pele
em calmarias
do desejo satisfeito...
odeteronchibaltazar
*********
Estelar paixão
odeteronchibaltazar
Veste-me
com teus beijos...
desenha,
com a língua,
estrelas em meu corpo
e eu terei um céu
nas curvas desta escuridão...
Orienta meu desejo
com tua mão.
Dá-me um prumo,
alinha-me o rumo.
Quero explodir em faíscas
por conta desta nebulosa
e inesperada
paixão...
odeteronchibaltazar
quinta-feira, maio 25, 2006
LANÇAMENTO
"Só Poesia"
de Odete Ronchi Baltazar
(...) Falar sobre suas poesias é falar da menina que nasce todos os dias no mundo virtual, da mulher que conseguiu ser livre, lúcida e lírica, sem perder a alegria que contagia a todos nós. Ela soube construir um viver feminino justo, sem precisar ser feminista de brigada, sem queimar sutiã, mas fazendo valer com inteligência, cada renda nele aplicada. Ela, generosa e feliz, salpica nosso cotidiano com apliques de ternura!
Odete tem um olhar diferente para cada momento, olhar que só quem nasce poeta consegue deslumbrar. E é dentro deste estado de enlevo que ela traçou seu roteiro de vida que se confunde com sua escrita. Sua melancolia é adolescente, sua euforia é elegante sem no entanto cair no comum. No carnaval do lirismo vai do bloco dos sujos ao baile a rigor sem deixar cair a peteca. Ora é cachaça, ora é champanhe. Sua inspiração é como nossa raça. Dá à luz poemas mestiços que chegam imprevisíveis, sorridentes, chorosos, frágeis, vigorosos, mas sempre vibrantes. Brindes a cada momento da existência. (...)
Rosa Pena - Janeiro de 2006
Editora AVBL
Título: Só Poesia
Autora: Odete Ronchi Baltazar
Contracapa: Maria da Graça Ferraz
Mensagens Orelha: Cissa de Oliveira; Silvane Saboia
Cláudia Villela de Andrade; Belvedere Bruno
Apresentação: Maria Inês Simões
Prefácio: Rosa Pena
ISBN: 85-98219-06-1
Páginas: 150
Tamanho: 15X 21 cm
Editora: AVBL
Valor: R$25,00
Vendas através do email
odete@odetepoesias.com.br
www.odetepoesias.com.br
Odete Ronchi Baltazar é formada em Literatura Brasileira.
Mora em Florianópolis SC e participa de grupos de discussão na internet.
Tem várias participações em Antologias e este é o primeiro livro solo.
quinta-feira, maio 18, 2006
Tentativas
tentAtiva
odeteronchibaltazar
Tentei de tudo:
desde valium a vodka,
meditação, tai chi...
mas não adiantou:
estou,
de novo,
aqui,
como uma Perestroika
que não deu certo,
com esse amor sempre incerto,
página-rascunho,
feita a lápis,
maneira fácil,
de apagar...
De novo,
aqui por perto,
com bilhete escrito
de próprio punho,
prova viva
desse insano ato
de te amar.
odeteronchibaltazar
*************
TentAtiva II
odeteronchibaltazar
Tentei não dizer da espera,
marcada em dia de festa
para o meu coração disparar.
Tentei disfarçar os olhos de fera,
atiçados em seu esconderijo.
Tentei não mostrar o peito
em morte,
ferido,
hirto.
Tentei...
Juro que cem vezes cem tentei.
Dez mil vezes não consegui.
odeteronchibaltazar
segunda-feira, maio 15, 2006
Dos ventos
Caminho dos ventos
odeteronchibaltazar
A saudade,
teu presente em meus dias,
desta vez
veio embrulhada
em laços de solidão.
E me perdi em nós,
atados aos meus braços vazios...
O que fazer dos meus versos
que vadios,
esperam por teu amar?
O que fazer se não apaguei teus rastros
em meus poemas
que agora escrevem minhas dores
junto ao teu nome neste céu azul?
Escreverei em brisas do norte que levarão
aos teus ouvidos as minhas canções
e deixarão, em mim,
o teu olhar,
ao retornarem a mim,
com teu doce vento sul.
odeteronchibaltazar
*******
Vento sul
odeteronchibaltazar
Este vento
com cheiro de ausências
invade meus versos,
bate em minha boca
e arrasta pelas noites
o roçar de teus lábios.
Este vento,
que se enovela
pelas ruas desertas,
canta triste pelas frestas
e penetra
na solidão dos meus dias.
Este vento ciumento
diz-me coisas de tua vida,
mexe com minha saudade,
estende minha dor,
prolonga minha agonia.
odeteronchibaltazar
sexta-feira, maio 12, 2006
Dia das Mães
Para minha mãe Emília, com carinho
odeteronchibaltazar
Minha mãe é aquela que me ensinou
a amar a vida,
a ter carinho para dar,
ensinou-me
a ser mulher.
Minha mãe é aquela que cozinha
ternuras com polenta,
e lava o cansaço
em lágrimas
que tenta esconder.
Minha mãe é aquela
que fala com o gato,
como se meu irmãos fosse,
e dá à nossa casa
o ar da manhã doce.
Minha mãe é poesia
desde o nascer do sol,
até terminar seu dia...
E eu sou o que sou
porque minha mãe,
com carinho,
ou com boas palmadas,
assim me ensinou.
odeteronchibaltazar
quinta-feira, maio 11, 2006
Nó bem dado
odeteronchibaltazar
A lembrança era daquelas que estavam nos porões, guardadas em caixas de papelão, dentro de envelopes sem nome, dobradas tantas vezes que ao se abrirem os sulcos das dobras atrapalhavam a leitura.
Mesmo assim, lá estava! Decifrável e doída.
Por que tinha de descobri-la logo hoje que amanhecera em sol glorioso, pronta para cantares debaixo de chuveiro e cafés na varanda? Logo hoje que se enfeitara em vestidos rodados prontos para dança com pés descalços?
Agora sabia que o resto do dia seria assim, sem nexo, nostálgico porque de lembranças pintado, apenas um prolongamento de agonias e suspiros entremeados com boca seca.
Apenas mais um dia em que seria impossível viver do presente. Mais um dia em que seria impossível desfazer o nó da garganta...
odeteronchibaltazar
quarta-feira, maio 10, 2006
Ausências
odeteronchibaltazar
A saudade esteve sempre presente como segunda pele e lhe amortizava o choro e a dor da ausência.
Não foi à toa que começou a sentir menos frio, embora o vento continuasse a cortar-lhe as palavras.
Enquanto a saudade aquecia, inventava canções de ninar que cantava bem baixinho em noites em que as estrelas sumiam e estava só... Tão só que ela sentia a sombra da solidão a lhe rodear nos escuros das rezas. E no reflexo dos espelhos, ela estava lá, acompanhando-a em cada mirada, a cada piscar...
Não soube quando foi que ela sumiu. Um dia, deu-se conta que estava só. Mais só que nunca . A saudade se fora. Esquecera das lembranças e o frio voltou a lhe inquietar.
odeteronchibaltazar
domingo, abril 30, 2006
Quase, quase maio...
odeteronchibaltazar
Quase maio e minhas flores
ainda sem brotação.
Quase ali, na porta,
meu desembaraço
permite que te fale:
estou sem ação.
Vem aguar minhas esperanças de flor.
Molha meus escuros,
umedece minha boca,
sedenta de palavras.
Deságua teus temporais
em minhas mãos,
há tanto tempo,
secas de versos sem lavras.
Quase maio,
e eu aqui,
imóvel,
à espera de auroras boreais,
de cigarras e pirilampos.
Quase maio e eu continuo aqui,
como sempre:
fantasia solta,
promessas irreais,
sempre à espera de ti...
odeteronchibaltazar
sexta-feira, abril 28, 2006
Insônia
odeteronchibaltazar
A noite se alonga
em insônias
e desassossegos.
Sem remédio,
essa inquietação
solitária.
Incurável esse latejar
das horas
sem uma luz,
sem um sinal.
Perdida em meus pesadelos,
consolo-me
com versos a gotejar
dos meus dedos inquietos.
Sobre os lençóis escrevo
linhas de saudade
e bordo,
em maiúsculas,
teu nome junto ao meu
no final.
quinta-feira, abril 27, 2006
Das margaridas azuis e amores primeiros
odeteronchibaltazar
Era um vestido como outro qualquer feito assim para a adolescente, eu, menina-moça. Não tinha enfeites a não ser o estampado em margaridas azuis... ou seriam brancas? E azuis seriam os meus sonhos de menina que namorava pela primeira vez e sonhava com o primeiro beijo, a primeira emoção, o primeiro rubor... o primeiro namorado: mão na mão, olho no olho, boca na boca?
Azuis ficaram em minha memória as margaridas e aqueles olhos no meu primeiro beijo. Azuis ficaram meus dias em escalas e tons de margaridas nunca esquecidas, mas eternizadas em fotografia preto-e-branco.
odeteronchibaltazar
odeteronchibaltazar
Era um vestido como outro qualquer feito assim para a adolescente, eu, menina-moça. Não tinha enfeites a não ser o estampado em margaridas azuis... ou seriam brancas? E azuis seriam os meus sonhos de menina que namorava pela primeira vez e sonhava com o primeiro beijo, a primeira emoção, o primeiro rubor... o primeiro namorado: mão na mão, olho no olho, boca na boca?
Azuis ficaram em minha memória as margaridas e aqueles olhos no meu primeiro beijo. Azuis ficaram meus dias em escalas e tons de margaridas nunca esquecidas, mas eternizadas em fotografia preto-e-branco.
odeteronchibaltazar
terça-feira, abril 25, 2006
Não tenho soluções...Você teria?
odeteronchibaltazar
Minha casa é cercada por altos muros, que a cada ano são aumentados em altura, e acrescidos em número de fios de arame farpado.
Tenho cães, alarme, grades nas janelas. Vivo encarcerada, sempre com as portas trancadas. Medo de ser surpreendida por ladrões dentro de casa, como aconteceu conosco ano passado ou como aconteceu nesta semana com a família de um amigo que foi dominado, também dentro de casa, com armas apontadas para as crianças.
Tenho observado que lá fora dos meus muros as coisas não estão diferentes. A cada dia, as grades ficam mais altas e pontiagudas, colocam-se alarmes em tudo, cacos de vidro nos muros, cercas elétricas em volta das residências onde os muros estão ficando mais altos que as próprias casas. Estamos nos escondendo e nos enjaulando.
Tudo issso para nos protegermos dos ladrões que roubam com mais e mais audácia, para nos protegermos dos bandidos que estão à solta e nos seqüestram sem piedade, com a maior cara-de-pau.
Vai chegar um tempo em que não teremos mais liberdade para andarmos nas ruas. Estaremos presos às jaulas e muralhas. Os bandidos estarão à solta, livres para escolherem o próximo alvo. Este futuro, que há tempos atrás parecia ficcional, está tão próximo que já é presente. É agora!
Não consigo ver uma luz ao final desse túnel. Não consigo dar uma sugestão para aliviar essa realidade. Não tenho idéias para reformar este mundo cão.
O que vejo é a inversão de valores tomando conta do povo. Dá-se muita importância ao ter, ao possuir, ao material e físico. Poucos estão interessados em crescer. Mas muitos querem ser ricos e isso leva à ambição desmedida. Todos querem enriquecer, e rapidamente! É a idéia generalizada de que se o vizinho tem, eu posso também ter. Se não consigo por meios honestos, vale tudo para conseguir. Até roubar, enganar, corromper, violentar.
Este é um assunto que não tem fim, mas podemos debater e tentar achar uma saída. Está aberta a temporada de caça. As eleições se aproximam e é uma boa hora para pensarmos em mudanças.
odeteronchibaltazar
odeteronchibaltazar
Minha casa é cercada por altos muros, que a cada ano são aumentados em altura, e acrescidos em número de fios de arame farpado.
Tenho cães, alarme, grades nas janelas. Vivo encarcerada, sempre com as portas trancadas. Medo de ser surpreendida por ladrões dentro de casa, como aconteceu conosco ano passado ou como aconteceu nesta semana com a família de um amigo que foi dominado, também dentro de casa, com armas apontadas para as crianças.
Tenho observado que lá fora dos meus muros as coisas não estão diferentes. A cada dia, as grades ficam mais altas e pontiagudas, colocam-se alarmes em tudo, cacos de vidro nos muros, cercas elétricas em volta das residências onde os muros estão ficando mais altos que as próprias casas. Estamos nos escondendo e nos enjaulando.
Tudo issso para nos protegermos dos ladrões que roubam com mais e mais audácia, para nos protegermos dos bandidos que estão à solta e nos seqüestram sem piedade, com a maior cara-de-pau.
Vai chegar um tempo em que não teremos mais liberdade para andarmos nas ruas. Estaremos presos às jaulas e muralhas. Os bandidos estarão à solta, livres para escolherem o próximo alvo. Este futuro, que há tempos atrás parecia ficcional, está tão próximo que já é presente. É agora!
Não consigo ver uma luz ao final desse túnel. Não consigo dar uma sugestão para aliviar essa realidade. Não tenho idéias para reformar este mundo cão.
O que vejo é a inversão de valores tomando conta do povo. Dá-se muita importância ao ter, ao possuir, ao material e físico. Poucos estão interessados em crescer. Mas muitos querem ser ricos e isso leva à ambição desmedida. Todos querem enriquecer, e rapidamente! É a idéia generalizada de que se o vizinho tem, eu posso também ter. Se não consigo por meios honestos, vale tudo para conseguir. Até roubar, enganar, corromper, violentar.
Este é um assunto que não tem fim, mas podemos debater e tentar achar uma saída. Está aberta a temporada de caça. As eleições se aproximam e é uma boa hora para pensarmos em mudanças.
odeteronchibaltazar
segunda-feira, abril 24, 2006
Em azuis esperas
odeteronchibaltazar
Todos os dias são azuis
quando espero por ti
e, embora esse sol em amarelos me dispa,
contorno as sombras
e me disfarço em ftalos e cerúleos
porque azuis são meus dias
na espera por ti.
Enquanto os verdes me chegam
em sustos de esmeraldas
e os vermelhos em risos explodem
os azuis me calam
enquanto espero por ti.
E eu sou toda marinha ou celeste,
cor da minha paz
ou paixão,
enquanto espero por ti...
odeteronchibaltazar
domingo, abril 23, 2006
Crônica
A menina dos livros
odeteronchibaltazar
Minha paixão pelos livros vem da infância, quando o que tínhamos para ler era somente a cartilha da escola. Lia e relia a cartilha o tempo todo. Tanto li que decorei certas lições.
Mais ou menos por essa época (idos anos 60), as Irmãs Paulinas iam de casa em casa vender livros e eu me lembro que a minha mãe comprou-me um que tinha como título "O pequeno Henrique". Para minha irmã comprou "A cega de Sorrento". Por muitos anos esses foram os nossos únicos tesouros.
Depois vieram as enciclopédias que eu amava de paixão e folheava sem parar... E mais tarde, na adolescência, pude participar da Biblioteca das Moças, onde podíamos pegar emprestados um livro por vez, a cada semana. Como a minha irmã também pegava um, acabávamos lendo dois livros por semana porque nos revezámos com a leitura.
Nesta época li todos os grandes romances do cristianismo, as Mulherzinhas de Louisa May Alcott e tantos outros que nem lembro mais... Anotava todos os títulos que lia em uma lista que acabei perdendo depois...
Como era difícil adquirirmos os livros, íamos emprestando de um ou de outro.
Lembro que costumava freqüentar assiduamente a biblioteca do colégio das freiras, o MTM, de Criciúma, onde eu fazia o Colégio Normal. Chegava cedo unicamente para desfrutar de uns minutos de tranqüilidade a sós com os amados livros. Qualquer horário vago eu ia para lá, para o meu refúgio.
Agora que ficou mais fácil a compra de livros, fico embevecida, quase em transe hipnótico quando entro em uma livraria. Fico em estado de euforia e acabo levando muitos e muitos livros. E me deleito a folheá-los e a cheirá-los com carinho.
Na minha cabeceira tenho vários livros que leio toda noite. Gosto de manuseá-los, escrever neles, anotar nas páginas, marcar como se fora um sinal. Meus livros são verdadeiros diários. Contam segredos.
Os livros da Cecília, por exemplo, têm anotações em quase todas as páginas e as datas sucedem-se, mas os sentimentos permanecem porque eternos como a palavra impressa.
E uma outra coisa: adoro reler os livros. Uma, duas, três vezes. Têm livros que estão na casa de praia e que releio a cada verão. Não me cansam e a cada leitura descubro novos elementos.
Livros de poesia são um caso à parte, pois fazem parte de mim. Vão comigo por onde eu vou. Amo cada página, cada poema, cada verso, cada palavra. E todos estão marcados, assinalados para sempre.
Nem me importo com os críticos que dizem que preciso cuidar do livro e não escrever neles... E desde quando escrever no livro é algum ultraje?
O livro é meu e eu o amo com meus sinais e minhas marcas. Eu dobro a página, faço orelha, escrevo e vivo cada página.
Eu me transformo com o livro e o livro muda comigo . Somos seres em mutação. Um livro sem marcas é um objeto sem vida. Os meus falam através de cada marca que fiz.
O que dirão meus netos quando lerem os livros de sua avó, cheios de anotações que contam segredos?
odeteronchibaltazar
Abro a janela...
odeteronchibaltazar
Abro minha janela para a tua chegada,
esperada em flores,
com mil beijos multicores
dispostos em mesa para dois.
Desvisto o sorriso triste
e as minhas dores,
tomo novos ares,
embalo sonhos
e olho lá adiante a janela
em que a espera
é apenas um sonho a mais...
odeteronchibaltazar
*********
Abro as janelas...
odeteronchibaltazar
Abro minha janela para os olhares
que insistem em espiar o meu sonho
acalentado em segredo.
Ergo cortinas e deixo entrever o sorriso
que ora tenho em meus lábios desenhado.
Deixo entrar o sol em amarelo luzente
e enfeito minha casa
onde sonho aventuras de pouco juízo.
Abro a janela de par em par
e deixo que vejam
tudo o que me faz te amar...
odeteronchibaltazar
***********
Da minha janela
odeteronchibaltazar
Da minha janela avisto
a tua ausência
que se instalou
de fini tiva mente
no meu horizonte
e agora faz parte
dos meus dias,
e como visgo
cresce em meus versos,
em minha agonia.
Da minha janela avisto
a espera,
o não-dito,
o que sempre quis ser.
E sem ti,
mesmo assim,
por teimosia,
insisto em viver.
odeteronchibaltazar
terça-feira, março 21, 2006
Imperfeito do Subjuntivo
odeteronchibaltazar
Virasse para o lado e pudesse esquecer as memórias que cismavam em vir para o jantar. Sentasse em outro lugar na mesa para um e os fantasmas fossem embora sem se despedir. Mirasse o espelho e aquela que espia saísse do gelo e a substituísse... por certo teria um pouco da paz que só existe nas fantasias das manhãs ensolaradas, no breakfast a dois, no que rola depois do amor, na cama desarrumada, na preguiça de domingo...
Pusesse um pouco mais de açúcar no café e adoçaria os inviezados do olhar, as palavras amargas, o não dito, o choro camuflado, o carinho não tido.
Tivesse um tiquinho a mais de coragem e sairia com a roupa do corpo para lugar indeterminado ou paragens desconhecidas em busca de si mesma - aquela, a que a fitava de dentro do espelho, a verdadeira, a legítima, a que não tinha dúvidas.
Tivesse a certeza, um pouco só, e estaria em risos sem a cabeça que pesava toneladas que a deixava confusa nem bem o dia começava.
Tivesse decidido e estaria tudo clean, higiênico, pasteurizado, homogeinizado sem contaminação de pensamentos atrapalhados e impuros.
Estivesse em estado de insanidade e faria coisas assim como correr pelada na chuva, beber caldo de cana no quiosque da beira da estrada, comer pão com manteiga no bar da esquina, chamar o nome do amado mesmo sem ele escutar, rezar de noite, dormir sem tomar Dormonid, acalmar-se sem Valium, animar-se sem Prozac...
Ah, se tivesse coragem e vivesse simplesmente!
21março2006
odeteronchibaltazar
Virasse para o lado e pudesse esquecer as memórias que cismavam em vir para o jantar. Sentasse em outro lugar na mesa para um e os fantasmas fossem embora sem se despedir. Mirasse o espelho e aquela que espia saísse do gelo e a substituísse... por certo teria um pouco da paz que só existe nas fantasias das manhãs ensolaradas, no breakfast a dois, no que rola depois do amor, na cama desarrumada, na preguiça de domingo...
Pusesse um pouco mais de açúcar no café e adoçaria os inviezados do olhar, as palavras amargas, o não dito, o choro camuflado, o carinho não tido.
Tivesse um tiquinho a mais de coragem e sairia com a roupa do corpo para lugar indeterminado ou paragens desconhecidas em busca de si mesma - aquela, a que a fitava de dentro do espelho, a verdadeira, a legítima, a que não tinha dúvidas.
Tivesse a certeza, um pouco só, e estaria em risos sem a cabeça que pesava toneladas que a deixava confusa nem bem o dia começava.
Tivesse decidido e estaria tudo clean, higiênico, pasteurizado, homogeinizado sem contaminação de pensamentos atrapalhados e impuros.
Estivesse em estado de insanidade e faria coisas assim como correr pelada na chuva, beber caldo de cana no quiosque da beira da estrada, comer pão com manteiga no bar da esquina, chamar o nome do amado mesmo sem ele escutar, rezar de noite, dormir sem tomar Dormonid, acalmar-se sem Valium, animar-se sem Prozac...
Ah, se tivesse coragem e vivesse simplesmente!
21março2006
domingo, março 19, 2006
Porque estou feliz
odeteronchibaltazar
Não me surpreende o sorriso matreiro
que ora pinta no meu rosto.
Ele é a bandeira desfraldada,
o outdoor escancarado
da minha alma em festa.
Agradam-me as asas dos pés
e o brilho de asas de borboletas
no olhar.
Encantam-me as risadas cristalinas
dizendo versos
em dourados de outono.
Divirto-me com as bolhas da água da chuva na calçada a salpicar
meus sapatos.
Saboreio o vento revirando
as toalhas no varal.
Colho raios de sol
em cada folha do jasmim,
bebo cristais das folhas luzidias pela manhã...
Danço serelepe em nuvens
grávidas de chuva.
Encontro adjetivos em verbos prontos.
Sou palavra pronta para ser lida,
começo e final,
a mão que cabe em tua luva,
o despertar dentro do sono...
Tenho a sede e a água,
a frase e o último ponto,
a caneca e o café.
De todos os bens que tenho a declarar
eu digo sem pestanejar:
Estou aqui à tua espera,
tenho asas prontas para voar.
odeteronchibaltazar
odeteronchibaltazar
Não me surpreende o sorriso matreiro
que ora pinta no meu rosto.
Ele é a bandeira desfraldada,
o outdoor escancarado
da minha alma em festa.
Agradam-me as asas dos pés
e o brilho de asas de borboletas
no olhar.
Encantam-me as risadas cristalinas
dizendo versos
em dourados de outono.
Divirto-me com as bolhas da água da chuva na calçada a salpicar
meus sapatos.
Saboreio o vento revirando
as toalhas no varal.
Colho raios de sol
em cada folha do jasmim,
bebo cristais das folhas luzidias pela manhã...
Danço serelepe em nuvens
grávidas de chuva.
Encontro adjetivos em verbos prontos.
Sou palavra pronta para ser lida,
começo e final,
a mão que cabe em tua luva,
o despertar dentro do sono...
Tenho a sede e a água,
a frase e o último ponto,
a caneca e o café.
De todos os bens que tenho a declarar
eu digo sem pestanejar:
Estou aqui à tua espera,
tenho asas prontas para voar.
odeteronchibaltazar
quinta-feira, março 09, 2006
Formatura turma de 1972
Colégio Madre Teresa Michel, Criciúma
Mulher e romântica forever
odeteronchibaltazar
Quando fazemos uma promessa temos que cumprir se não corremos o risco de perdermos o benefício. Pois é... Eu prometi (a mim mesma) que escreveria um livro. Isso nos tempos de escola do Rio Maina e do Colégio Madre Teresa Michel. Como sempre me saía bem nas redações disseram que eu prometia. Prometia o quê? Esperavam muito daquela menina super estudiosa e comportada que até escrevia bem. E eu queria realizar todas as expectativas e ia seguindo na direção. Esperavam tudo da oradora da turma.
Colégio de freira é exigente e, embora eu viesse de uma família onde o pai era muito rígido, a disciplina da época das freiras me retraía ainda mais. Lembro que no ensaio do meu discurso de formatura a Irmã Sônia achou que estava tudo muito romantizado, meloso demais. Mas a Irmã Celina retrucou que aquele era meu estilo e que deveria permitir que ficasse assim. Ficou. Agradou e fui aplaudida. Fiz rir e chorar. E me dei conta que poderia direcionar platéias apenas com palavras.
Na Universidade já não me sentia mais tão escritora. Na Graduação de Letras um professor me tirou a ilusão. Disse que eu era romântica demais, melosa até (eu já conhecia esse veredicto) e que esse estilo tinha acabado. Eu não tinha futuro. Assim. Na bucha. Minha vontade de escrever qualquer coisa que cheirasse a literatura acabou. Apertei o botão Stop e fiquei assim tanto tempo que nem me lembro quando recomecei a escrever. Acho que depois de anos, quando senti que não estava realizada somente como mãe e que estava faltando alguma coisa a mais nessa minha jornada.
A opção por não-trabalhar-fora-de-casa trouxe consigo a vontade de realizar aquele velho sonho... Ah, tão antigo que quase não mais existia. Mas aquela chama tão débil voltou devagarinho e eu, entre uma louça e um cozido, entre tarefas da filha e reunião de mães fui escrevendo e registrando emoções que escondia em gavetas. A cada dia refazia o que escrevera no dia anterior e assim ia guardando as primeiras páginas do meu prometido livro.
Mas eu ainda tinha medo. Ainda era a garotinha do colégio com medo de mostrar os deveres ao professor. E as gavetas continuaram a guardar meus tesouros e a transbordar de romantismo até que surgiu uma novidade que modificou meu comportamento totalmente: a internet.
Nos grupos de literatura passei a interagir com outras tantas pessoas tímidas que também tinham o sonho secreto de escrever um livro e também tinham as mesmas ansiedades e medos e pretensões. E também eram românticas...
No mundo cibernético passei a me moldar diferente e surgiu uma pessoa mais solta, irreverente, criativa e amante da liberdade de expressão. Passei a conviver diariamente com centenas de escritores e leitores. Meus escritos deixaram de ser arquivos mortos e passaram a circular no mundo internáutico com uma rapidez impressionante. Dei-me conta que tudo podia ser quando escrevia. Comecei a usar minha imaginação, memória, sentimento, emoção tudo em uníssono. E deu certo. Meus livros passaram do virtual para o mundo dito real. Primeiro em Antologias com outros escritores e agora - sonho dos meus sonhos - o meu livro solo que será lançado no próximo mês. Tudo preparadinho, no gatilho, pronto para realizar a minha promessa que fiz lá atrás, lembram? Eu lembro. Nunca esqueci.
Eu escrevi o livro. Já plantei a árvore. Já tive a filha. O que falta mais? Ah, falta muito. Muito mais...
odeteronchibaltazar
Quando fazemos uma promessa temos que cumprir se não corremos o risco de perdermos o benefício. Pois é... Eu prometi (a mim mesma) que escreveria um livro. Isso nos tempos de escola do Rio Maina e do Colégio Madre Teresa Michel. Como sempre me saía bem nas redações disseram que eu prometia. Prometia o quê? Esperavam muito daquela menina super estudiosa e comportada que até escrevia bem. E eu queria realizar todas as expectativas e ia seguindo na direção. Esperavam tudo da oradora da turma.
Colégio de freira é exigente e, embora eu viesse de uma família onde o pai era muito rígido, a disciplina da época das freiras me retraía ainda mais. Lembro que no ensaio do meu discurso de formatura a Irmã Sônia achou que estava tudo muito romantizado, meloso demais. Mas a Irmã Celina retrucou que aquele era meu estilo e que deveria permitir que ficasse assim. Ficou. Agradou e fui aplaudida. Fiz rir e chorar. E me dei conta que poderia direcionar platéias apenas com palavras.
Na Universidade já não me sentia mais tão escritora. Na Graduação de Letras um professor me tirou a ilusão. Disse que eu era romântica demais, melosa até (eu já conhecia esse veredicto) e que esse estilo tinha acabado. Eu não tinha futuro. Assim. Na bucha. Minha vontade de escrever qualquer coisa que cheirasse a literatura acabou. Apertei o botão Stop e fiquei assim tanto tempo que nem me lembro quando recomecei a escrever. Acho que depois de anos, quando senti que não estava realizada somente como mãe e que estava faltando alguma coisa a mais nessa minha jornada.
A opção por não-trabalhar-fora-de-casa trouxe consigo a vontade de realizar aquele velho sonho... Ah, tão antigo que quase não mais existia. Mas aquela chama tão débil voltou devagarinho e eu, entre uma louça e um cozido, entre tarefas da filha e reunião de mães fui escrevendo e registrando emoções que escondia em gavetas. A cada dia refazia o que escrevera no dia anterior e assim ia guardando as primeiras páginas do meu prometido livro.
Mas eu ainda tinha medo. Ainda era a garotinha do colégio com medo de mostrar os deveres ao professor. E as gavetas continuaram a guardar meus tesouros e a transbordar de romantismo até que surgiu uma novidade que modificou meu comportamento totalmente: a internet.
Nos grupos de literatura passei a interagir com outras tantas pessoas tímidas que também tinham o sonho secreto de escrever um livro e também tinham as mesmas ansiedades e medos e pretensões. E também eram românticas...
No mundo cibernético passei a me moldar diferente e surgiu uma pessoa mais solta, irreverente, criativa e amante da liberdade de expressão. Passei a conviver diariamente com centenas de escritores e leitores. Meus escritos deixaram de ser arquivos mortos e passaram a circular no mundo internáutico com uma rapidez impressionante. Dei-me conta que tudo podia ser quando escrevia. Comecei a usar minha imaginação, memória, sentimento, emoção tudo em uníssono. E deu certo. Meus livros passaram do virtual para o mundo dito real. Primeiro em Antologias com outros escritores e agora - sonho dos meus sonhos - o meu livro solo que será lançado no próximo mês. Tudo preparadinho, no gatilho, pronto para realizar a minha promessa que fiz lá atrás, lembram? Eu lembro. Nunca esqueci.
Eu escrevi o livro. Já plantei a árvore. Já tive a filha. O que falta mais? Ah, falta muito. Muito mais...
segunda-feira, março 06, 2006
CONTO
Branco & Preto
odeteronchibaltazar
Já tivera dias de primavera em pleno inverno . E eram todos claros e azuis, límpidos e transparentes.
Dava bom dia ao sol que ainda nem se mostrava. Dava boa noite à Vesper luzente no ocaso colorido. Em cores, vivia sua vida, eterno cinemascope.
Não precisava pedir nada. Tinha sempre tudo à mão: chuva, ventos, calmaria, brisa, trovão. Se quisesse um pouco de paz, tinha gorjeio de pássaros. Se quisesse sossego, tinha intimidade entre as folhagens.
Desejando dançar, tinha o lago e as cachoeiras com músicas. Era livre para andar nu, rasgado, descabelado, remelento, limpo até a alma.
Podia gritar, cantarolar e ninguém reclamava. Sussurrava, chorava e ria... fazia o que bem quisesse, rezava, até!
Comia na hora que desse fome, dormia quando o sono chegava. Acordava com o romper do dia. Era livre para ver o que quisesse, na hora que bem entendesse. Cuidava de seu quintal, ia à mercearia do povoado. Tomava banho de cachoeira pelado, os pelinhos todos se arrepiando, o frio insinuando-se no corpo inteiro. Trabalhava e sonhava na rede esticada na varanda. Bastava-se. Completa e infinitamente solidão. Plena e benfazeja distância.
Não fosse a finitude da vida, jurava que estava no Paraíso.
Mas fazia uns dias que começara a questionar sobre os dias e as noites e a inquietude começara a se instalar. Já não dava bom dia ao sol ou boa noite aos pirilampos. Tudo lhe parecia um encompridamento só. Não descansava mais e o corpo doía inteiro.
As perguntas ficavam no ar irrespirável. Não achava respostas em suas leituras, em seus banhos, em sua rede.
A que viera, para onde iria, quando sairia de cena.
O medo morava fundo. Não dormia, não acordava. Só doía. Doía inteiro por todo o sempre.
Não mensurou tempo porque dor não tem marcação. É longa demais o tempo todo. Mas ficou assim doendo uma infinitude até decidir partir.
Anda, agora, pelas esquinas, sem identidade, que no inferno não se tem nome. Solitário tempo integral, não vê a hora de alçar vôo.
odeteronchibaltazar
Já tivera dias de primavera em pleno inverno . E eram todos claros e azuis, límpidos e transparentes.
Dava bom dia ao sol que ainda nem se mostrava. Dava boa noite à Vesper luzente no ocaso colorido. Em cores, vivia sua vida, eterno cinemascope.
Não precisava pedir nada. Tinha sempre tudo à mão: chuva, ventos, calmaria, brisa, trovão. Se quisesse um pouco de paz, tinha gorjeio de pássaros. Se quisesse sossego, tinha intimidade entre as folhagens.
Desejando dançar, tinha o lago e as cachoeiras com músicas. Era livre para andar nu, rasgado, descabelado, remelento, limpo até a alma.
Podia gritar, cantarolar e ninguém reclamava. Sussurrava, chorava e ria... fazia o que bem quisesse, rezava, até!
Comia na hora que desse fome, dormia quando o sono chegava. Acordava com o romper do dia. Era livre para ver o que quisesse, na hora que bem entendesse. Cuidava de seu quintal, ia à mercearia do povoado. Tomava banho de cachoeira pelado, os pelinhos todos se arrepiando, o frio insinuando-se no corpo inteiro. Trabalhava e sonhava na rede esticada na varanda. Bastava-se. Completa e infinitamente solidão. Plena e benfazeja distância.
Não fosse a finitude da vida, jurava que estava no Paraíso.
Mas fazia uns dias que começara a questionar sobre os dias e as noites e a inquietude começara a se instalar. Já não dava bom dia ao sol ou boa noite aos pirilampos. Tudo lhe parecia um encompridamento só. Não descansava mais e o corpo doía inteiro.
As perguntas ficavam no ar irrespirável. Não achava respostas em suas leituras, em seus banhos, em sua rede.
A que viera, para onde iria, quando sairia de cena.
O medo morava fundo. Não dormia, não acordava. Só doía. Doía inteiro por todo o sempre.
Não mensurou tempo porque dor não tem marcação. É longa demais o tempo todo. Mas ficou assim doendo uma infinitude até decidir partir.
Anda, agora, pelas esquinas, sem identidade, que no inferno não se tem nome. Solitário tempo integral, não vê a hora de alçar vôo.
quinta-feira, março 02, 2006
O céu que inventas
odeteronchibaltazar
Escrevo cristais em papéis
que voam para a tua fronte
mas não me decifras...
mesmo quando
caem em gotas
na tua boca.
Calado,
não me dizes dos amores que espero
ou das alegrias que quero.
Sequer me convidas
para a festa
que em segredo preparas
para teus amores incertos.
Sequer me levas em tuas asas
nos vôos que intentas,
solitário anjo,
que me visita
nas minhas insônias...
(tantas...)
Dá-me, por favor, uma linha
do teu destino
para que eu possa bordar,
finalmente,
teu nome
junto ao meu
neste céu que ora inventas...
odeteronchibaltazar
quarta-feira, março 01, 2006
terça-feira, fevereiro 21, 2006
Eu tenho
odeteronchibaltazar
Eu tenho o teu riso
em claridades
que iluminam os meus dias
e realizam as minhas noites em harmonias.
Eu tenho
as tuas palavras que aquecem
os meus versos
e que vivem em minhas poesias.
Eu tenho a tua voz
que brinca em semitons
e me faz viver em fantasias.
Eu tenho o sonho,
tenho o real,
tenho o concreto
e o virtual.
Tenho a ti,
minha doce companhia
intemporal...
odeteronchibaltazar
terça-feira, fevereiro 07, 2006
ESTRIPHULIAS
odeteronchibaltazar
Dia de ser peralta,
comer mariscos,
lamber teus petiscos
ficar alta,
estonteante,
em pêlo.
Percorrer teu corpo
com desvelo,
cuidados de principiante,
atos de amante,
deixar tesão rolar.
Hoje é dia de
beber os sucos,
penetrar em sulcos
que porventura encontrar.
Hoje é a fantasia quem manda,
e eu, mulher sem pudor,
o desejo comando, de pé,
de quatro ou na cama.
E tu,
homem que adoro o sabor,
saiba que hoje
é dia de entrar na ciranda.
odeteronchibaltazar
******
Em dias assim
odeteronchibaltazar
Em dias assim
visto-me inteira
com teus beijos
de língua
a moldar-me o corpo
em chamas.
Em dias assim
viro atriz,
ergo o palco
e ensaio um melodrama.
Em dias assim
fico faceira
esqueço o "lá fora",
deleto as horas,
fico de bobeira
enrolada no teu abraço.
Em dias assim
não desato os laços
mimo meus desejos
quero os teus beijos
sempre a ninar-me
de cabo a rabo.
odeteronchibaltazar
******
Arco-e-flecha
odeteronchibaltazar
Viro e mexo,
volteio,
arqueio,
remexo nas lembranças,
nas trancas e tramelas
dos meus anseios.
Deixo tudo de lado,
sem nexo,
desdobrado.
Curvo-me aos teus desejos
e não canso jamais.
Em arco, flexiono verbos,
construo castelos
-os tais-
e invento maneiras
e digo asneiras
e quero tudo:
o anoitecer e a aurora.
Quero tudo e mais.
Quero os teus beijos
e teu convexo,
e todos os sulcos
e quero os sumos
que me embebedam
que me fazem esquecer
inteira e completamente
os dias que passei sem ti.
Quero esquecer
que existem as horas,
quero o aqui e agora,
Quero-te inteiro,
em flecha,
somente para mim.
odeteronchibaltazar
******
Sem mais delongas
odeteronchibaltazar
E digo que te quero
e digo que te espero
em riste,
só meu,
sem chiste
ou adulação.
Na hora H
não tenho papas
na língua
pois só quero te amar
seja do jeito
que for.
Com trejeitos,
mil falas,
carinhos,
enfeites,
e tu,
eu quero
satisfeito,
ao meu lado,
exausto,
no chão...
odeteronchibaltazar
******
Teu meu desejo
odeteronchibaltazar
E hoje eu quis te amar inteiro,
desejo feito mulher,
toda nudez sem castigo.
Quis espalhar em teu corpo o meu beijo,
brincando contigo em meus braços,
e te envolver,
nua,
em meus laços.
Hoje quis ser tua amante,
um brinquedo só,
um luxo de instante.
E porque quis ser tua,
conheci o paraíso,
esta coisa louca,
vício louco e sem juízo,
apenas querendo ter.
Lindo,
esse nosso amor maluco:
dia-sim-dia-não,
quer apenas e tão pouco,
ser dois em um só coração.
odeteronchibaltazar
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