quinta-feira, março 22, 2007

Viciada? Quem? Eu?















Viciada? Quem? Eu? (parte 1)

odeteronchibaltazar


Levanto, pela manhã, com pouca vontade de acordar. Sigo o caminho da cozinha só pelo faro. Meu marido está fazendo o café, aprontando a mesa, colocando cachorros no canil...
Há algum tempo esse ritual matutino era meu. Levantava sempre muito cedo. Seis horas era o ideal para mim. Não tinha amanhecido direito, tudo estava quietinho, fresquinho ou bem friozinho. Eu fazia o café, e ia para o jardim, mesmo de camisola, roupão e chinelos com uma xícara de café preto na mão. Sentava com os gatos ao redor e ficava escutando os passarinhos, sentindo a brisa gostosa do amanhecer e querendo que ficasse sempre assim: amanhecendo.
Mas as horas passavam, cada um ia acordando, levantando, se arrumando e pegando o seu rumo: faculdade, trabalho.
Eu ficava em casa com minha rotina de dona-de-casa-de-todo-dia-ter-de-fazer-a-mesma-coisa.
Nunca me queixei desses trabalhos todos. São necessidades do dia-a-dia. Têm de ser feitas de um jeito ou de outro. Aliás, sempre gostei muito de arrumação, de faxina, de decoração de casa. Como se eu continuasse a brincar de casinha, igual aos tempos de crianças, lembram?
Mas algo em minha vida tem mudado. Só não sei qual foi o instante em que isso aconteceu.
Não consigo mais acordar cedo. Não tenho mais necessidade de brincar de casinha. Não tenho mais tempo de ouvir os passarinhos.
Agora, a primeira coisa que faço ao acordar é ligar o computador e abrir o outlook para baixar as mensagens, para ver se tem algum email de vida ou morte que tenha que responder, abrir os programas de fotos para formatar um poema meu ou daquele amigo que me pediu na semana passada e que tinha me esquecido, ver quem ficou pela madrugada afora na net... tudo isso, antes mesmo antes de tomar o cheiroso café, preparado pelo meu marido. E falando nele, cadê? Já saiu, é mesmo. Era ele dando um tchau ainda há pouco. É... acho que era...
Meus gatos, agora, é que vêm atrás de mim. Os passarinhos? nem sei se cantam mais... tarefas da casa? Faço o mais rápido que puder. Tenho de responder aquelas centenas de emails que deixei na caixa de entrada. As flores, deixo-as no jardim mesmo, que não tenho mais tempo de colhê-las e colocar em vasos. As toalhas engomadinhas são de um passado, onde a brincadeira preferida era brincar de casinha. Agora brinco de outra coisa. Brinco de internet, de fotomontagem, de fazer papel de carta, de reduzir música mp3 para wave, brinco de transformar imagem jpg em gif, me divirto em aplicar filtros em imagens, esqueço da vida escrevendo poemas e crônicas e mensagens para o mundo inteiro, e faço essas coisas deliciosas que me fazem esquecer das tristezas da alma.
Aqui em casa dizem que estou viciada em computação, internet, emails, essas coisas. Dizem que me transformei em uma nerd. Eu acho que não. Posso passar quantas horas eu quiser sem ler um email, sem chegar perto do computador. Isso mais do que prova que estou "limpa", sem vício algum... Opsssss, peraí... Está chegando email... com licença.

odeteronchibaltazar

segunda-feira, março 12, 2007

Cheiro de goiaba




Cheiro de goiaba


odeteronchibaltazar


Quando entrei na escola, eu ia fazer 7 anos (ano de 1960) e nunca tinha freqüentado nenhum jardim de infância. No primeiro dia de aula, fui com uma pasta de couro, um caderno, lápis, borracha e muita apreensão. Medo. Pavor mesmo.
Quando me colocaram em fila e entrei na sala de aula, ainda estava de olhos secos, mas não demorou muito e eu comecei a ficar ansiosa, pois não sabia segurar o lápis nem desenhar o aeiou. Foi aí que desandei a chorar e nada me consolava. Uma coleguinha apiedou-se de mim e me ofereceu uma goiaba para ver se eu parava com aquele berreiro, mas qual! Coloquei a goiaba na pasta e continuei a chorar. Fui para o recreio com a goiaba amassada e com o gosto de lágrimas. Minha coleguinha não me abandonou. Mas para mim, o mundo tinha acabado.
Nunca o tempo me pareceu tão estático! As horas não passavam. E eu continuava a chorar.
D. Maria Bonfante, uma professora que era nossa vizinha, vendo o meu estado, levou-me para o gabinete (sala do diretor) e depois levou-me para casa.
Do meu primeiro ano foi somente esta a lembrança que me ficou. O choro e o cheiro. De goiaba.
Por que esta lembrança me chegou?
Simples. É epoca de goiaba e o cheiro está no ar.


odeteronchibaltazar

sábado, março 03, 2007

Em preto & branco

















Em preto & branco

odeteronchibaltazar


Na tarde silenciosa busquei qualquer coisa que denunciasse tua passagem em meus dias,
mas não encontrei sequer uma linha,
uma pontinha de algum fio que marcasse teus rastros.
Nada.
Tudo em branco,
tudo na mais perfeita solidão.
Não sei se ainda busco te encontrar
para aliviar minha saudade
ou se é apenas costume de procurar-te entre minhas lembranças
que já nem são tão claras assim.
Guardo-te mais uma vez bem escondido de mim.
Lá ficarás até que eu decida
que minha vida precisa de mais cor.
Por enquanto sigo em preto-e-branco.

odeteronchibaltazar
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