quinta-feira, junho 25, 2009

Súplica


















Súplica

odete ronchi baltazar

Deixa que te diga
da solidão que trago em meu peito,
do choro que treme à beira dos olhos,
do sorriso pintado em aquarelas,
dos adeuses que lamentei,
do meu verso já feito
e que não mostrei.
Deixa que te mostre
meu peito doído
e minhas mãos cansadas,
meus sonhos quebrados
e a esperança já morta.
Deixa que te mostre
minhas flores já secas,
os poemas inacabados
e a minha longa estrada torta.
Deixa que eu me mostre
assim frágil, chorosa.
Depois, nunca mais baterei à tua porta.


Imagem original: Ivan Slavinsky

segunda-feira, junho 22, 2009

Era uma vez


















Era uma vez

odete ronchi baltazar

Era uma vez um amor...
(tão intenso!).
Beirava a loucura,
e sem mais procura
espalhava-se neste mundo imenso.
Foi segredo
antes que as andorinhas,
voando baixo,
espalhassem em seus gorjeios
as notas dessa paixão.
Foi nó
na garganta
esperando as pontas
para desatar no chão.
Foi lágrima,
foi riso,
foi rio,
foi mar.
Desse amor
(tão intenso)
restou
a lembrança,
um pouco
de choro,
(de riso)
sufoco
e ar.
Só memórias...
sem remédio.
Não tem como voltar.

segunda-feira, junho 15, 2009

Rainha do lar?



















Rainha do lar?

odete ronchi baltazar

Segundo turno da segunda começando e eu ainda nos serviços gerais, que não acabam nunca.
Serviço de dona-de-casa é um serviço ingrato. Se a gente faz ninguém nota. Se deixa de fazer é um deus-nos-acuda! Todo mundo cai de pau em cima por causa da reviria.
Já pensaram bem quanta coisa temos que fazer para deixar uma casa em ordem?
Dona-de-casa deveria se chamar "administradora do lar", oras, pois é isso mesmo que ela é.
Vou enumerar algumas (eu disse "algumas"!) das tarefas que temos que realizar: lavar roupas, estender, recolher, passar, guardar, colocar nos cabides... varrer, passar pano, tirar o pó, cozinhar, ajeitar a cozinha depois do almoço, ou jantar... E se tiver crianças, ai, ai! A coisa fica mais complicada.
Sei. Vão me dizer que as brastemps lavam. Mas quem é que põe pra lavar, coloca o sabão, o amaciante, o clareador, a Qboa naquela manchinha? Quem engoma as toalhinhas de bandeja ou de pão? Pois é...
E o supermercado? Tem coisa mais estressante?
Faz a lista, passa nas prateleiras, põe no carrinho, passa no caixa, põe no carrinho, põe no carro, tira do carro, põe nos armários... Ufa! cansei!
E ainda tem o almoço pra fazer?
Ah, não!
Vou fazer um sanduíche que ninguém é de ferro!
E ainda tem muita coisa pra fazer... Nem pensem que terminaram as tarefas da dona-de-casa aqui.
Acho que essa história de reinar no meu lar é história mesmo. Eu sou mesmo é gata borralheira... Com avental e tudo o mais. Nem à noite viro Cinderela!
Entre louças, roupas e vassouras, desfaço os nós e os laços das fantasias diárias e entro de cabeça na realidade que não assusta, mas me deixa atenta e me diz que não é pra desistir de sonhar.
Sou teimosa, tenho sonhos nas pontas dos dedos e insisto em dizê-los aos quatro cantos do mundo.
Vamos em frente que o dia apenas começou!

quinta-feira, junho 11, 2009

Sina de poeta




















Imagem de Elena Ray


Sina de poeta

odeteronchibaltazar

Neste criar/recriar,
minhas palavras vêm de mim,
mas não são minhas.
Quando as quero,
já não estão.
Alçaram vôo
e estão por sua própria conta
em bocas e olhos alheios,
que espiam seus significados
e desvendam meus mistérios.
Quero um nome,
mas destoo do canto geral.
Nesta sina de poeta,
solitária lida,
tenho tudo,
mas estou tão somente só.
Ó palavras, vivas palavras!
Ainda estarão aqui,
mesmo depois de eu virar pó...

quarta-feira, junho 10, 2009

Um beijo




















Imagem - O beijo - Gustav Klimt

Um beijo

odeteronchibaltazar

Nada faltava naquele beijo?
Tinha a cor das manhãs,
o cheiro do café coado na hora
e a maciez das cobertas em dia de frio.
Era um beijo com jeito de roubado,
presente em papel de seda embrulhado
e muito laço de fita.
Um beijo com gosto de dia de folga,
sabor de batata frita.
Mais que um beijo,
a satisfação do desejo.
Era mais que um toque de lábios e línguas,
ou troca de sumos e sucos, afinal.
Era a penetração de almas em gozo.
Era puro êxtase,
tesouro precioso...
Só faltava ser real.

odeteronchibaltazar

quarta-feira, junho 03, 2009

Na pontinha dos dedos















Na pontinha dos dedos

odeteronchibaltazar

Ela está quase ali,
no branco,
preenchendo o vazio,
cobrindo o infinito.
Mas ainda não é,
(e pode deixar de ser)
é só parar de sonhar.
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