segunda-feira, novembro 21, 2005

Minha amiga Silsaboia












Sonho

Silsaboia

Não tenho medo do futuro
nem da lágrima no escuro
nem das lutas
dores e temores
que rodeiam o meu olhar...
Tenho medo só da morte
de nunca mais sonhar!

Silsaboia

****

Rasteira

Silsaboia

Ando pensativa esses dias...
pelos cantos, distraída
sem dor e sem alegria
lambendo cada ferida.

Toda vez que estou assim
nesta marasmo profundo
acabo dando rasteira
e inverto o meu próprio mundo.

Fico com cara de boba um tempo
observando a palhaçada
arquitetando o momento
da mudança de estrada.

E num piscar de olho rápido
saco da minha auto-estima
jogo fora, piso, mordo
e dou a volta por cima!

Silsaboia

****

PARE!

Silsaboia

Pare o carro!
Eu disse!
Pare!
Sou eu ali na esquina...
era eu sim... aquela menina...
Volte!
A mesma saia e bicicleta!
o mesmo jeito... alma inquieta...
olhos de asas de sonhar...
Pare agora... quero voltar!
Aonde ela foi? Em que rua está?
Quero encontrá-la...
Queria tanto perguntar...
Em que momento exato
a hora, o dia em que
ela perdeu aquele olhar?

Silsaboia

****

TEMPO

Silsaboia

Não faz assim...
Não me faz tanto medo
ao escorrer pelos meus dedos
zombando de mim...

Que eu tenho verde nos meus olhos
sementes nos cabelos
e terra fresca nos meus sonhos
pra plantar no teu jardim!

Silsaboia











Da minha janela

odeteronchibaltazar

Da minha janela avisto
a tua ausência
que se instalou
de fini tiva mente
no meu horizonte
e agora faz parte
dos meus dias,
e como visgo
cresce em meus versos,
em minha agonia.
Da minha janela avisto
a espera,
o não-dito,
o que sempre quis ser.
E sem ti,
mesmo assim,
por teimosia,
insisto em viver.

odeteronchibaltazar

domingo, novembro 06, 2005












Aquarela

odeteronchibaltazar

Dia branco
nebuloso
ensopado de névoas e segredos.

Casas quietas
caladas

disfarçando sonhos,
escondendo medos

terça-feira, novembro 01, 2005
















Ghost writer *

odeteronchibaltazar


Quando estava no Colégio Normal, lá pelos idos anos 70, eu me sobressaía na sala de aula por ser estudiosa e tirar notas excelentes. Era uma CDF assumida e era procurada pelas colegas para ajudá-las nas tarefas, trabalhos ou provas.
Tinha uma colega, vizinha de carteira, a Dora, que tirava o máximo de proveito da minha boa vontade: colava nas provas, estava sempre na minha equipe e pegava minhas tarefas todos os dias para copiar. Nem se dava ao trabalho de disfarçar sua preguiça de estudar.
Dora tinha um namorado que já estava na Capital fazendo o curso de Direito. Ele era uns cinco ou seis anos mais velho que ela, que tinha dezessete, assim como eu.
Eles se correspondiam como apaixonados que eram e um dia ela me mostrou uma das cartas e a resposta que estava escrevendo, pedindo-me auxílio para a elaboração da carta. A desculpa era que não escrevia muito bem, enquanto ele era excelente na escrita.
Ajudei-a com muito gosto. Fiquei até envaidecida em ser considerada uma boa "escritora" de cartas.
Na semana seguinte, Dora me traz outra carta do namorado e me confidencia que está sem assunto para escrever a carta em resposta. Pede-me para ler o que o namorado escreveu e dar uma idéia do que ela deve responder.
Lá fui eu, de novo, escrever a carta para o namorado dela.
Escrevi como se o namorado fosse meu e eu a namorada amada, esperando pelo amado, longe, na capital. Era um amor só! Empolguei-me, senti-me a própria namorada, e escrevi muitas páginas em papel de carta de seda. Ficou uma carta longa, amorosa, cheia de saudade e de carinho.
Dora adorou e o namorado dela, amou!
Na outra semana, Dora recebeu outra carta e me mostrou toda entusiasmada. O namorado tinha estranhado a maneira dela escrever e ficara se perguntando de onde ela tirara tanto assunto na carta anterior, mas estava feliz por vê-la tão alegre e romântica.
Dora, já sem nenhum pudor, pede-me que responda a carta no lugar dela. E começa ali, um período curioso da minha vida em que fui a namorada apaixonada sem nunca ter sido. Eu escrevia com prazer e já estava gostando daquela fantasia. Escrevia longas cartas que Dora, muitas vezes, dividia em duas para dar mais assunto ao namorado.
Sentia-me poderosa, tendo as palavras como varinha mágica que fazia aquele amor florescer. O amor era de Dora ou era meu?
Minhas eram as fantasias. De Dora, o namorado, com o qual se casou depois da formatura do curso normal. E eu? Nem fui convidada para o casamento...
Nunca ele soube da escrevinhadora das suas cartas. Não sei se desconfiou de algo. Nunca eu soube. Nem sei se estão felizes. Devem estar. Espero que estejam. Eu estou feliz e de consciência tranqüila. Sei que sou uma criadora de ilusões.

odeteronchibaltazar

*O ghost writer, é uma espécie de revisor e re-escritor das coisas alheias. Forneça-lhe informações básicas e algumas pistas de como desejas o teu texto e ele o entrega pronto. Seja este texto um discurso, uma dissertação, um panfleto publicitário, ou qualquer outro.
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