quinta-feira, julho 28, 2011

"Ah se certas coisas pudessem voltar..."

"Ah se certas coisas pudessem voltar..."
(Cecília Meireles)

odeteronchibaltazar


Quando eu era pequena, nas férias, passávamos a maior parte do tempo com os primos. Não se viajava como nos dias de hoje. Estávamos sempre juntos com os parentes e amigos da rua.

        Na época de inverno, tempo das laranjas, íamos nas nonas para chupá-las diretamente dos pés e ainda trazíamos bolsas cheias delas para casa.

        Na época do verão, íamos buscar melado e acúcar grosso nos Macarinis. Era muito longe e íamos a pé com garrafas para colocar o melado.

        Tinha a época de colher vassouras no mato, que não lembro se era verão ou inverno. A gente ia em turma de primos e amigos: Rosa, Natalina, Aládio, Pico, Tela, Iva, Miri, Toninho, Tite, Nené, Bertino, Lurdes, Zoraide, Santina, eu...

        Lembro que era longe e que tínhamos que passar pelo Buiú, o rio que cortava as terras do seu João Bonfante, já poluído naquela época pelos detritos do carvão. As águas eram escuras, cor de ferrugem, quase pretas.

        A gente ia fazendo muita folia, aprontando todo tipo de brincadeiras e me recordo de uma em especial. Pegávamos as folhas de coqueiro e nos balançávamos em volta dele, tipo Tarzan. A adrenalina da brincadeira ficava por conta do Buiú (o rio, lembram?), pois o coqueiro ficava no barranco do rio e no impulso que dávamos, parte do "voo" era por cima do Buiú! Se a gente caísse, iria se afogar, com toda certeza, pois as águas eram profundas e com correnteza. Mas quem disse que criança tem juízo?

        Em acordo mútuo, ninguém contava para os pais. É claro que se eles soubessem proibiriam todos de andar por aquelas bandas.

        Quando voltávamos, trazíamos os braços carregados de um arbusto que servia para fazer vassouras para varrer os terreiros e quintais que sempre eram muito grandes naqueles tempos. E ainda trazíamos, tucum , araçás, mexericos (uma frutinha bem pequenina e roxa), laranjas, maranto (outra frutinha roxa que usávamos para colorir as unhas).

        Vínhamos carregados e cansados, esperando tomar o café da tarde com muito cavaquinho, pão de casa, queijo, salame e, se tivéssemos sorte, umas fatias de polenta fria.

        Sentávamos na mesa assim mesmo, sem tomar banho, quando muito com as mãos lavadas, e nos nutríamos daquela energia que somente em família podemos ter.

        Minha infância foi tão intensa que vivi por mil e mais mil viveria se me fosse dado escolher.

quinta-feira, julho 21, 2011

Espanto



Espanto

odete ronchi baltazar

O dia é feito de pequenos assombros
curtas palavras,
longas esperas.
E no andar das horas
toco as asas do tempo.
Minhas mãos vagarosas
desenham sonhos lentos,
nas brancas fronhas,
enquanto não chega a aurora.
Liberto as águas vertentes
sem saber das sendas
que se abrem
no meu medo sem fim
Tu não chegaste.
Por que a demora?

odeteronchibaltazar
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