quinta-feira, setembro 08, 2011

Livre para voar


Livre para voar

odeteronchibaltazar

Você,
que sempre esperou
pela minha aquiescência,
deve estar perdido agora,
sem saber se vai pro Norte ou pro Sul.
Eu,
aqui deste lado,
estou em minha total essência:
livre, coisa e tal,
fazendo a minha hora,
sendo o que sempre sou:
passarinho canto solto,
asas leves,
tempo pouco para tanto sonhar.

quinta-feira, agosto 11, 2011

Vida, casa e jardins


odeteronchibaltazar

Li um artigo sobre casas mortas e casas vivas, fazendo alusão ao movimento que essas casas teriam, ou não, de acordo com a vivência do povo que nelas morassem.

Já tinha me dado conta disto e já vinha observando as casas que visitava.

Já entrei em casa onde me pareceu estar em uma vitrine de "casa&jardim", com nadica fora do lugar, como se esperassem por fotógrafos a qualquer momento. Nem um copo na pia, ou um livro largado no sofá, ou uma toalha esquecida em cima da cama, ou um chinelo jogado ao lado da cama... Um gato no sofá? Nem pensar!

Os porta-retratos simetricamente arranjados nas prateleiras tinham sorrisos arrumadinhos e anti-simpáticos. As almofadas fofas eram gordas e intactas no sofá branco asséptico. As cadeiras perfiladas ao lado da mesa esperavam pelos convivas em dia de faustos jantares programados com sorrisos nos devidos lugares. As camas com as colchas sem uma preguinha sequer denunciavam que naquele lugar era proibido se espreguiçar fora de hora ou ler um livro deitado com montanhas de travesseiros nas costas.

As janelas e as cortinas fechadas não deixavam o sol (que pretensão!) entrar. O vento era amaldiçoado. E tudo ficava num silêncio que doía nos ouvidos.

Comecei a gostar das casas onde, na pia, sempre tinha umas xícaras com restos de café ou copos com suco, prontas para serem lavadas, e a chaleira sempre, no fogão, à espera de água para mais um café da hora.

Passei a achar poético, mais do que desleixo, os brinquedos deixados no tapete, ou a bola largada no jardim, ou a bóia flutuando na piscina. E os tênis largados na grama com as meias que o labrador roeu? Quer mais sinal de que existe vida nessa casa?

Para mim, um livro largado no sofá ao lado de uma xícara de café e dos óculos de leitura passou a ser mais uma cena de pintura (still life) e não um motivo para me descabelar para correr e pôr em ordem.

Mas tempo já houve em que eu ficava exausta tentando apagar qualquer vestígio de vivência dentro de casa. E como na minha casa a vida pululava, eu vivia em eterna briga com a vida, tentando amortizar e amordaçar, querendo deixar tudo inerte, silencioso, descolorido.

Só que tenho algo dentro de mim mesma que deixo escapar e que não consigo colocar em ordem por mais que eu queira. E isso se reflete no exterior, nas minhas coisas e no que me rodeia. Tenho as janelas sempre abertas com o vento a brincar nas cortinas, os gatos deitados nos sofás, as roupas no varal, a chaleira no fogo, o ursinho da netinha no tapete e os chinelos largados no meio da casa porque gosto de andar descalça e os cabelos ao vento. Minha casa nunca será fotografada pela produção da "casa&jardim" pois sempre terá risos e ventos espalhados pelos cantos todos, numa desordem amorosa e aconchegante. Quem olhar mais atentamente, vai perceber que por aqui, a vida anda à solta pelos quartos, salas e pelo jardim.

odeteronchibaltazar
 

quinta-feira, julho 28, 2011

"Ah se certas coisas pudessem voltar..."

"Ah se certas coisas pudessem voltar..."
(Cecília Meireles)

odeteronchibaltazar


Quando eu era pequena, nas férias, passávamos a maior parte do tempo com os primos. Não se viajava como nos dias de hoje. Estávamos sempre juntos com os parentes e amigos da rua.

        Na época de inverno, tempo das laranjas, íamos nas nonas para chupá-las diretamente dos pés e ainda trazíamos bolsas cheias delas para casa.

        Na época do verão, íamos buscar melado e acúcar grosso nos Macarinis. Era muito longe e íamos a pé com garrafas para colocar o melado.

        Tinha a época de colher vassouras no mato, que não lembro se era verão ou inverno. A gente ia em turma de primos e amigos: Rosa, Natalina, Aládio, Pico, Tela, Iva, Miri, Toninho, Tite, Nené, Bertino, Lurdes, Zoraide, Santina, eu...

        Lembro que era longe e que tínhamos que passar pelo Buiú, o rio que cortava as terras do seu João Bonfante, já poluído naquela época pelos detritos do carvão. As águas eram escuras, cor de ferrugem, quase pretas.

        A gente ia fazendo muita folia, aprontando todo tipo de brincadeiras e me recordo de uma em especial. Pegávamos as folhas de coqueiro e nos balançávamos em volta dele, tipo Tarzan. A adrenalina da brincadeira ficava por conta do Buiú (o rio, lembram?), pois o coqueiro ficava no barranco do rio e no impulso que dávamos, parte do "voo" era por cima do Buiú! Se a gente caísse, iria se afogar, com toda certeza, pois as águas eram profundas e com correnteza. Mas quem disse que criança tem juízo?

        Em acordo mútuo, ninguém contava para os pais. É claro que se eles soubessem proibiriam todos de andar por aquelas bandas.

        Quando voltávamos, trazíamos os braços carregados de um arbusto que servia para fazer vassouras para varrer os terreiros e quintais que sempre eram muito grandes naqueles tempos. E ainda trazíamos, tucum , araçás, mexericos (uma frutinha bem pequenina e roxa), laranjas, maranto (outra frutinha roxa que usávamos para colorir as unhas).

        Vínhamos carregados e cansados, esperando tomar o café da tarde com muito cavaquinho, pão de casa, queijo, salame e, se tivéssemos sorte, umas fatias de polenta fria.

        Sentávamos na mesa assim mesmo, sem tomar banho, quando muito com as mãos lavadas, e nos nutríamos daquela energia que somente em família podemos ter.

        Minha infância foi tão intensa que vivi por mil e mais mil viveria se me fosse dado escolher.

quinta-feira, julho 21, 2011

Espanto



Espanto

odete ronchi baltazar

O dia é feito de pequenos assombros
curtas palavras,
longas esperas.
E no andar das horas
toco as asas do tempo.
Minhas mãos vagarosas
desenham sonhos lentos,
nas brancas fronhas,
enquanto não chega a aurora.
Liberto as águas vertentes
sem saber das sendas
que se abrem
no meu medo sem fim
Tu não chegaste.
Por que a demora?

odeteronchibaltazar

sábado, junho 11, 2011

Um dia a mais na tua ausência

 
 
Um dia a mais na tua ausência 

odeteronchibaltazar
 
Enquanto tenho esse dia,
espalho meus versos
pelas horas,
até que resolvas te aproximar
e me tirar
da concha
em que me escondi.
Enquanto o dia durar
espero
entre o sonho
e os poemas
que tão só escrevi.
Enquanto o dia
estiver aqui
eu os retenho nas mãos
inconformadas
e os disperso
nas sombras da minha solidão.
 
odeteronchibaltazar

(Re)encontro

 
(Re)encontro
 
odete ronchi baltazar
 
Tantos anos!
Tantas mudanças!
Já eras outro.
Eu havia mudado
nas solitárias andanças.
As palavras (doces palavras!)
renasceram neste dia.
As cartas amarelecidas pela tinta do tempo,
voltaram em ternuras nunca esquecidas.
Já não doía mais a distância,
e o coração bateu no mesmo compasso.
Os caminhos foram tantos!
Em todos eu procurei o teu passo
(aquele!)
que me fazia levitar e seguir em asas de paixão.
Tua volta revirou meus dias,
meus sonhos, minhas noites.
Passei a querer viver com sofreguidão,
voltei a ter desejos de espaço,
voando em asas prometidas
e alcançar, de novo, a amplidão.
 
odeteronchibaltazar

Bonjour, Tristesse

 
Bonjour, Tristesse
 
odeteronchibaltazar
 
Foi em vão que busquei
o que foi,
o que me alimentava a alma,
o que era bom.
Não existia mais o frisson,
a taquicardia,
a espera,
o papel de bombom.
Tu, em mim, não existias mais.
E foi surpresa
não sentir
a alma dando pinotes
à tua presença.
Não tinha mais a crença,
nem a superstição
que contava os minutos (quiçá, os segundos!)
até chegares
e transformar meu dia
em girassóis,
em amarelos-luz.
Foi-se assim
sem mais nem menos,
sem pedir licença.
E eu,
agora,
mesmo sem saber a direção,
vou em busca
de novo amor que,
ainda tão longe, 
me seduz
em solidão.
 
odeteronchibaltazar

quarta-feira, abril 13, 2011

Beijos


Beijos


S. Holtz

Beijos de amor,
beijos sem pudor,
beijos com o toque da flor,
desejo te beijar... seja como for,
beijos esperados que aliviam a dor,
para os dias quentes, beijos com frescor,
quando chegar o inverno, beijos com calor,
para adoçar a boca, beijos com sabor,
suaves beijos tiram todo o amargor,
para a paixão, beijos com furor,
meus beijos ao teu dispor
e eu, perdido de amor.

S. Holtz

Um beijo

Imagem Gustav Klimt - "O beijo"

Um beijo

odeteronchibaltazar

O que faltava naquele beijo?
Tinha a cor das manhãs,
o cheiro do café coado na hora
e a maciez das cobertas em dia de frio.
Era um beijo com jeito de roubado,
presente em papel de seda embrulhado
e muito laço de fita.
Um beijo com gosto de dia de folga,
sabor de batata frita.
Mais que um beijo,
era a satisfação do desejo.
Era mais que um toque de lábios e línguas,
ou troca de sumos e sucos, afinal.
Era a penetração de almas em gozo.
Era puro êxtase,
tesouro precioso...
Só faltava ser real.

sexta-feira, abril 01, 2011

Esquecimentos diários


Esquecimentos diários

odeteronchibaltazar

Não sei o que anda acontecendo. Ando distraída com os amigos. Até os mais chegados andam envoltos em uma nuvem de esquecimento. Esqueço aniversários, encontros, nomes, gostos. Esqueço do que meu amigo sofre. Esqueço que ele está passando por algum momento difícil ou que tem feito uma conquista ou que seu filho se formou, casou, noivou, namorou, engravidou, surtou.

Coisas importantes ou de somenos valor são esquecidas. Não porque não os ame, mas porque tudo anda tão rápido nesses dias que ando sem tempo de me deter em cada detalhe. As coisas me fogem.
Será que é a idade?

Lembro do tempo em que eu tinha agendado aniversário de tanta gente! Eram amigos, parentes, conhecidos, empregados, vizinhos... Hoje a agenda se perdeu e eu nem me dou conta dos parabéns a não ser quando vejo outras pessoas cumprimentarem o aniversariante.
Digo a mim mesma que vou voltar a fazer uma agenda no capricho, mas qual! Esqueço disso também!

Essa coisa de esquecimento está ficando engraçada aqui em casa. Meu marido está pior que eu. Ele que nunca precisou anotar um compromisso que fosse, que sempre guardou tudo "de cabeça", vive me requisitando pra "não deixá-lo esquecer" de fazer isto ou aquilo, de ir neste ou naquele médico, de telefonar pra Beltrano ou Cicrano. Logo eu que tenho tanta coisa pra lembrar? Vivo com bilhetes pendurados, anotações em folhas dispersas em todo lugar em letras garrafais pra chamar a atenção. E vivo conferindo seguidamente as datas das consultas marcadas para não deixar passar as datas.

Os dias de hoje estão corridos demais, estou chegando a esta conclusão. E a memória da gente está ficando pequena para tanta informação. Assim como se pode acrescentar memória nos computadores, seria de bom tamanho se pudéssemos acrescentar mais memória em nossa cabeça... Hummmmmm iria ser interessante e prático. De cara, eu pegaria uns gigas a mais pra conseguir abarcar tudo o que quero ter em mente sem esquecer.

Não quero esquecer de responder os e-mails, ou às cartas que ainda recebo. Não quero esquecer de retornar os telefonemas, ou de retribuir os presentes que recebi. Não quero deixar de dar um carinho aos meus amigos só porque minha cabeça anda avoada.

Mas enquanto tudo depender só de mim e de um fortificante (ah, também ando esquecendo das palavras!), vou esquecer coisas e mais coisas. Minha cabeça é pequena demais para guardar tanta "coisa". Enquanto isso, vou de bilhetinhos na geladeira, ou ao lado do PC, ou no mural, ou nos espelhos... Enfim, tem recadinhos afixados em tudo quanto é espaço disponível.

- E estou lendo aqui, em um desses bilhetinhos, que tenho... tinha... que enviar essa crônica ainda ontem! Poxa! Esqueci de olhar o bilhete! De que adianta fazer recadinhos se nem os leio? Eita, cabeçuda! Não adianta! A idade me pegou de jeito!

quinta-feira, março 31, 2011

Tu, outra vez...



Tu, outra vez...

odete ronchi baltazar

E agora que eu já tinha te esquecido... Agora que eras somente uma página guardada nas gavetas... Agora que minha vida estava tão quieta, tu me surges daqueles dias longíquos e sinto ganas de ter-te aqui a todo instante.

Agora que a dor já havia passado e meus sonhos tinham ido dormir nas cartas escritas, tu me apareces novamente com as palavras certas para saciar minha fome de te amar.

Saboreio cada letra do teu falar. E teu perfume voltou a penetrar nos vazios das noites imensas.

Agora não sei o que fazer dessa felicidade que me tomou de assalto e bagunçou a monotonia da minha vida.

Agora terei voos e saltos audacioso.

Terei rima nas mãos ávidas por versos. Terei risos, andarei descalça na chuva, deixar-me-ei levar pelo vento Sul e cantarei músicas esquecidas.

As palavras escondidas nas minhas mãos poderão, outra vez, falar daqueles dias em que fui tão feliz.

Agora repetirei aos quatro cantos do mundo: "Estou aqui esperando por tua vinda. Vem, vamos reviver aquela paixão!"

quinta-feira, março 24, 2011

Eu me amo, você não?



Eu me amo, você não?

odete ronchi baltazar

Não é questão de egocentrismo ou exibicionismo ou mesmo de "umbiguismo" (acabei de inventar) cuidar e curtir a própria aparência, mas quando se vê alguém que se cuida, todo mundo a rotula de exibida. Só porque cuida do próprio corpo?

Apesar dos rótulos impostos, é essencial que se tenha cuidados básicos consigo próprio, com a saúde e com a aparência.
Nosso corpo é nosso cartão de visitas. Não é preciso ser capa de revista, mas uma boa imagem é sempre bem vinda.
Para isso, precisamos ter certos cuidados e quem não se ama, não se cuida (geralmente em quadros depressivos isso se manifesta mais intensamente).

Vai daí que começa todo o processo de interiorização (você se ama) que acaba por se exteriorizar nos olhos, pele, cabelos, unhas, vestimenta...

Eu sou tímida, mas aqui na net eu fiquei exibida demais. Agora eu consigo mostrar minhas fotos que faço às escondidas de mim mesma, ou aquelas que eu tinha perdidas nas gavetas.

Acho que toda mulher tem um pouco de modelo-manequim dentro de si e adora um clic, mas nem todas têm coragem de se expor.
No meu caso, partir do momento que consegui me "mostrar" mais, passei a achar menos defeitos em mim. Ou melhor, passei a aceitá-los sem me descabelar. Já não me acho a última das mulheres, nem a mais feia das "mocréias".

Estou gostando de mim e isso se reflete na minha aparência, no meu sorriso, no meu olhar.
E você, amiga, precisa ter seu dia de estrela. Nem que seja pra você mesma.

Um desses dias qualquer em que você está sozinha, sem nada pra fazer, vá para a frente do espelho, capriche na maquiagem, arrume os cabelos, coloque um rubro batom e faça caras-e-bocas. Clique-se mil vezes mil.
Sorria para você mesma. Divirta-se. Ria de você e com você.
Ninguém está vendo.
Só você!
E verá que legal o resultado!
Experimente! Você também vai se amar...


sábado, março 12, 2011

Fênix



Fênix

odete ronchi baltazar

Acabou a folia.
Somente cinzas
espalhadas ao vento.

Deixa estar!
renascerei das sobras
ao raiar do dia.

sexta-feira, março 04, 2011

Carnaval



Carnaval
odeteronchibaltazar

Nestes dias de folia
quero me esconder
do mundo,
e despir,
só para ti,
a minha fantasia.

Voo solo


Voo solo

odeteronchibaltazar

Perdi os sonhos em alguma esquina
e suas asas deixaram de me acompanhar
Agora,
solitários,
só têm a mim mesmo
para voar.


quarta-feira, março 02, 2011

Espanto



Espanto

odete ronchi baltazar

O dia é feito de pequenos assombros
curtas palavras,
longas esperas.
E no andar das horas
toco as asas do tempo.
Minhas mãos vagarosas
desenham sonhos lentos,
nas brancas fronhas,
enquanto não chega a aurora.
Liberto as águas vertentes
sem saber das sendas
que se abrem
no meu medo sem fim
Tu não chegaste.
Por que a demora?

sexta-feira, fevereiro 25, 2011

Fotografia


Fotografia

odete ronchi baltazar

A cadeira muda,
eu, acanhada,
olhos cintilantes de estrelas,
pés no chão.
O dia
eternizou o meu espanto.
E a minha infância
ficou para sempre
em minha mão.

odeteronchibaltazar
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...