domingo, abril 30, 2006








Quase, quase maio...

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Quase maio e minhas flores
ainda sem brotação.
Quase ali, na porta,
meu desembaraço
permite que te fale:
estou sem ação.
Vem aguar minhas esperanças de flor.
Molha meus escuros,
umedece minha boca,
sedenta de palavras.
Deságua teus temporais
em minhas mãos,
há tanto tempo,
secas de versos sem lavras.
Quase maio,
e eu aqui,
imóvel,
à espera de auroras boreais,
de cigarras e pirilampos.
Quase maio e eu continuo aqui,
como sempre:
fantasia solta,
promessas irreais,
sempre à espera de ti...

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sexta-feira, abril 28, 2006













Insônia

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A noite se alonga
em insônias
e desassossegos.

Sem remédio,
essa inquietação
solitária.

Incurável esse latejar
das horas
sem uma luz,
sem um sinal.

Perdida em meus pesadelos,
consolo-me
com versos a gotejar
dos meus dedos inquietos.

Sobre os lençóis escrevo
linhas de saudade
e bordo,
em maiúsculas,
teu nome junto ao meu
no final.

quinta-feira, abril 27, 2006














Das margaridas azuis e amores primeiros

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Era um vestido como outro qualquer feito assim para a adolescente, eu, menina-moça. Não tinha enfeites a não ser o estampado em margaridas azuis... ou seriam brancas? E azuis seriam os meus sonhos de menina que namorava pela primeira vez e sonhava com o primeiro beijo, a primeira emoção, o primeiro rubor... o primeiro namorado: mão na mão, olho no olho, boca na boca?
Azuis ficaram em minha memória as margaridas e aqueles olhos no meu primeiro beijo. Azuis ficaram meus dias em escalas e tons de margaridas nunca esquecidas, mas eternizadas em fotografia preto-e-branco.

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terça-feira, abril 25, 2006






Não tenho soluções...Você teria?

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Minha casa é cercada por altos muros, que a cada ano são aumentados em altura, e acrescidos em número de fios de arame farpado.
Tenho cães, alarme, grades nas janelas. Vivo encarcerada, sempre com as portas trancadas. Medo de ser surpreendida por ladrões dentro de casa, como aconteceu conosco ano passado ou como aconteceu nesta semana com a família de um amigo que foi dominado, também dentro de casa, com armas apontadas para as crianças.
Tenho observado que lá fora dos meus muros as coisas não estão diferentes. A cada dia, as grades ficam mais altas e pontiagudas, colocam-se alarmes em tudo, cacos de vidro nos muros, cercas elétricas em volta das residências onde os muros estão ficando mais altos que as próprias casas. Estamos nos escondendo e nos enjaulando.
Tudo issso para nos protegermos dos ladrões que roubam com mais e mais audácia, para nos protegermos dos bandidos que estão à solta e nos seqüestram sem piedade, com a maior cara-de-pau.
Vai chegar um tempo em que não teremos mais liberdade para andarmos nas ruas. Estaremos presos às jaulas e muralhas. Os bandidos estarão à solta, livres para escolherem o próximo alvo. Este futuro, que há tempos atrás parecia ficcional, está tão próximo que já é presente. É agora!
Não consigo ver uma luz ao final desse túnel. Não consigo dar uma sugestão para aliviar essa realidade. Não tenho idéias para reformar este mundo cão.
O que vejo é a inversão de valores tomando conta do povo. Dá-se muita importância ao ter, ao possuir, ao material e físico. Poucos estão interessados em crescer. Mas muitos querem ser ricos e isso leva à ambição desmedida. Todos querem enriquecer, e rapidamente! É a idéia generalizada de que se o vizinho tem, eu posso também ter. Se não consigo por meios honestos, vale tudo para conseguir. Até roubar, enganar, corromper, violentar.
Este é um assunto que não tem fim, mas podemos debater e tentar achar uma saída. Está aberta a temporada de caça. As eleições se aproximam e é uma boa hora para pensarmos em mudanças.


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segunda-feira, abril 24, 2006
















Em azuis esperas

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Todos os dias são azuis
quando espero por ti
e, embora esse sol em amarelos me dispa,
contorno as sombras
e me disfarço em ftalos e cerúleos
porque azuis são meus dias
na espera por ti.
Enquanto os verdes me chegam
em sustos de esmeraldas
e os vermelhos em risos explodem
os azuis me calam
enquanto espero por ti.
E eu sou toda marinha ou celeste,
cor da minha paz
ou paixão,
enquanto espero por ti...

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domingo, abril 23, 2006

Crônica














A menina dos livros

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Minha paixão pelos livros vem da infância, quando o que tínhamos para ler era somente a cartilha da escola. Lia e relia a cartilha o tempo todo. Tanto li que decorei certas lições.
Mais ou menos por essa época (idos anos 60), as Irmãs Paulinas iam de casa em casa vender livros e eu me lembro que a minha mãe comprou-me um que tinha como título "O pequeno Henrique". Para minha irmã comprou "A cega de Sorrento". Por muitos anos esses foram os nossos únicos tesouros.
Depois vieram as enciclopédias que eu amava de paixão e folheava sem parar... E mais tarde, na adolescência, pude participar da Biblioteca das Moças, onde podíamos pegar emprestados um livro por vez, a cada semana. Como a minha irmã também pegava um, acabávamos lendo dois livros por semana porque nos revezámos com a leitura.
Nesta época li todos os grandes romances do cristianismo, as Mulherzinhas de Louisa May Alcott e tantos outros que nem lembro mais... Anotava todos os títulos que lia em uma lista que acabei perdendo depois...
Como era difícil adquirirmos os livros, íamos emprestando de um ou de outro.
Lembro que costumava freqüentar assiduamente a biblioteca do colégio das freiras, o MTM, de Criciúma, onde eu fazia o Colégio Normal. Chegava cedo unicamente para desfrutar de uns minutos de tranqüilidade a sós com os amados livros. Qualquer horário vago eu ia para lá, para o meu refúgio.
Agora que ficou mais fácil a compra de livros, fico embevecida, quase em transe hipnótico quando entro em uma livraria. Fico em estado de euforia e acabo levando muitos e muitos livros. E me deleito a folheá-los e a cheirá-los com carinho.
Na minha cabeceira tenho vários livros que leio toda noite. Gosto de manuseá-los, escrever neles, anotar nas páginas, marcar como se fora um sinal. Meus livros são verdadeiros diários. Contam segredos.
Os livros da Cecília, por exemplo, têm anotações em quase todas as páginas e as datas sucedem-se, mas os sentimentos permanecem porque eternos como a palavra impressa.
E uma outra coisa: adoro reler os livros. Uma, duas, três vezes. Têm livros que estão na casa de praia e que releio a cada verão. Não me cansam e a cada leitura descubro novos elementos.
Livros de poesia são um caso à parte, pois fazem parte de mim. Vão comigo por onde eu vou. Amo cada página, cada poema, cada verso, cada palavra. E todos estão marcados, assinalados para sempre.
Nem me importo com os críticos que dizem que preciso cuidar do livro e não escrever neles... E desde quando escrever no livro é algum ultraje?
O livro é meu e eu o amo com meus sinais e minhas marcas. Eu dobro a página, faço orelha, escrevo e vivo cada página.
Eu me transformo com o livro e o livro muda comigo . Somos seres em mutação. Um livro sem marcas é um objeto sem vida. Os meus falam através de cada marca que fiz.
O que dirão meus netos quando lerem os livros de sua avó, cheios de anotações que contam segredos?


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Abro a janela...

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Abro minha janela para a tua chegada,
esperada em flores,
com mil beijos multicores
dispostos em mesa para dois.
Desvisto o sorriso triste
e as minhas dores,
tomo novos ares,
embalo sonhos
e olho lá adiante a janela
em que a espera
é apenas um sonho a mais...

odeteronchibaltazar

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Abro as janelas...

odeteronchibaltazar

Abro minha janela para os olhares
que insistem em espiar o meu sonho
acalentado em segredo.
Ergo cortinas e deixo entrever o sorriso
que ora tenho em meus lábios desenhado.
Deixo entrar o sol em amarelo luzente
e enfeito minha casa
onde sonho aventuras de pouco juízo.
Abro a janela de par em par
e deixo que vejam
tudo o que me faz te amar...

odeteronchibaltazar

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Da minha janela

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Da minha janela avisto
a tua ausência
que se instalou
de fini tiva mente
no meu horizonte
e agora faz parte
dos meus dias,
e como visgo
cresce em meus versos,
em minha agonia.
Da minha janela avisto
a espera,
o não-dito,
o que sempre quis ser.
E sem ti,
mesmo assim,
por teimosia,
insisto em viver.

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