quarta-feira, dezembro 07, 2005
Natal
Vesperal
odeteronchibaltazar
Se Papai Noel me trouxesse
um cartão,
uma linha,
um risco que fosse,
vindo diretamente
de tuas mãos,
ah, seria,
então,
Natal!
odeteronchibaltazar
quinta-feira, dezembro 01, 2005
de saudades
de saudades
odeteronchibaltazar
Pairam tuas palavras
em meus dias
e em minhas noites
que em insônias
deixo escorrer.
Pairam os teus olhos
em meus versos
como faróis
em mares de temporal.
E eu
em agonias,
busco as tuas mãos
que me acenam
em promessas
para livrar-me de todo mal.
dez/2005
****
de saudades
odeteronchibaltazar
E hoje teve a saudade,
triste verdade,
dos versos teus,
dispersos carinhos,
neste meu solitário céu.
E hoje teve a lágrima,
teimosa prova
da falta que me faz
um pouquinho
do riso teu.
E hoje teve a música,
senha nua,
anunciando marota,
teus esperados passos.
Hoje, que triste,
só não teve teu braço,
doce refúgio,
que me esconderia o cansaço,
me fazendo só tua.
*****
de saudades
odeteronchibaltazar
A saudade teceu um manto
sobre minhas palavras
que estão,
agora,
frias e caladas.
Já não adianta
as teias e seus cristais luzirem nas manhãs
pois meus olhos adormecerão
como sensitivas ao toque.
E as vozes dos riachos
entoarão,
à toa,
as cantigas.
E as folhas mortas
esquecerão de dar cores ao outono
ou de abafar o som dos meus passos fugidios.
Já não adianta o amanhecer com suas promessas
pois que a saudade se instalou
definitivamente em meus dias.
*****
de saudades, sempre...
odeteronchibaltazar
Hoje,
me perfumei com saudades,
olhando teu retrato amassado,
lembrança há tempos escorrida,
neste meu mundo quebrado.
Nas sobras do choro,
costuro a vida,
e me escondo da tua ausência doída.
Nas dobras do olho,
já não consigo
desfazer o nó que,
há muito tempo,
eu fiz,
nestas minhas duras esquinas.
*****
segunda-feira, novembro 21, 2005
Minha amiga Silsaboia
Sonho
Silsaboia
Não tenho medo do futuro
nem da lágrima no escuro
nem das lutas
dores e temores
que rodeiam o meu olhar...
Tenho medo só da morte
de nunca mais sonhar!
Silsaboia
****
Rasteira
Silsaboia
Ando pensativa esses dias...
pelos cantos, distraída
sem dor e sem alegria
lambendo cada ferida.
Toda vez que estou assim
nesta marasmo profundo
acabo dando rasteira
e inverto o meu próprio mundo.
Fico com cara de boba um tempo
observando a palhaçada
arquitetando o momento
da mudança de estrada.
E num piscar de olho rápido
saco da minha auto-estima
jogo fora, piso, mordo
e dou a volta por cima!
Silsaboia
****
PARE!
Silsaboia
Pare o carro!
Eu disse!
Pare!
Sou eu ali na esquina...
era eu sim... aquela menina...
Volte!
A mesma saia e bicicleta!
o mesmo jeito... alma inquieta...
olhos de asas de sonhar...
Pare agora... quero voltar!
Aonde ela foi? Em que rua está?
Quero encontrá-la...
Queria tanto perguntar...
Em que momento exato
a hora, o dia em que
ela perdeu aquele olhar?
Silsaboia
****
TEMPO
Silsaboia
Não faz assim...
Não me faz tanto medo
ao escorrer pelos meus dedos
zombando de mim...
Que eu tenho verde nos meus olhos
sementes nos cabelos
e terra fresca nos meus sonhos
pra plantar no teu jardim!
Silsaboia
Da minha janela
odeteronchibaltazar
Da minha janela avisto
a tua ausência
que se instalou
de fini tiva mente
no meu horizonte
e agora faz parte
dos meus dias,
e como visgo
cresce em meus versos,
em minha agonia.
Da minha janela avisto
a espera,
o não-dito,
o que sempre quis ser.
E sem ti,
mesmo assim,
por teimosia,
insisto em viver.
odeteronchibaltazar
domingo, novembro 06, 2005
terça-feira, novembro 01, 2005
Ghost writer *
odeteronchibaltazar
Quando estava no Colégio Normal, lá pelos idos anos 70, eu me sobressaía na sala de aula por ser estudiosa e tirar notas excelentes. Era uma CDF assumida e era procurada pelas colegas para ajudá-las nas tarefas, trabalhos ou provas.
Tinha uma colega, vizinha de carteira, a Dora, que tirava o máximo de proveito da minha boa vontade: colava nas provas, estava sempre na minha equipe e pegava minhas tarefas todos os dias para copiar. Nem se dava ao trabalho de disfarçar sua preguiça de estudar.
Dora tinha um namorado que já estava na Capital fazendo o curso de Direito. Ele era uns cinco ou seis anos mais velho que ela, que tinha dezessete, assim como eu.
Eles se correspondiam como apaixonados que eram e um dia ela me mostrou uma das cartas e a resposta que estava escrevendo, pedindo-me auxílio para a elaboração da carta. A desculpa era que não escrevia muito bem, enquanto ele era excelente na escrita.
Ajudei-a com muito gosto. Fiquei até envaidecida em ser considerada uma boa "escritora" de cartas.
Na semana seguinte, Dora me traz outra carta do namorado e me confidencia que está sem assunto para escrever a carta em resposta. Pede-me para ler o que o namorado escreveu e dar uma idéia do que ela deve responder.
Lá fui eu, de novo, escrever a carta para o namorado dela.
Escrevi como se o namorado fosse meu e eu a namorada amada, esperando pelo amado, longe, na capital. Era um amor só! Empolguei-me, senti-me a própria namorada, e escrevi muitas páginas em papel de carta de seda. Ficou uma carta longa, amorosa, cheia de saudade e de carinho.
Dora adorou e o namorado dela, amou!
Na outra semana, Dora recebeu outra carta e me mostrou toda entusiasmada. O namorado tinha estranhado a maneira dela escrever e ficara se perguntando de onde ela tirara tanto assunto na carta anterior, mas estava feliz por vê-la tão alegre e romântica.
Dora, já sem nenhum pudor, pede-me que responda a carta no lugar dela. E começa ali, um período curioso da minha vida em que fui a namorada apaixonada sem nunca ter sido. Eu escrevia com prazer e já estava gostando daquela fantasia. Escrevia longas cartas que Dora, muitas vezes, dividia em duas para dar mais assunto ao namorado.
Sentia-me poderosa, tendo as palavras como varinha mágica que fazia aquele amor florescer. O amor era de Dora ou era meu?
Minhas eram as fantasias. De Dora, o namorado, com o qual se casou depois da formatura do curso normal. E eu? Nem fui convidada para o casamento...
Nunca ele soube da escrevinhadora das suas cartas. Não sei se desconfiou de algo. Nunca eu soube. Nem sei se estão felizes. Devem estar. Espero que estejam. Eu estou feliz e de consciência tranqüila. Sei que sou uma criadora de ilusões.
odeteronchibaltazar
*O ghost writer, é uma espécie de revisor e re-escritor das coisas alheias. Forneça-lhe informações básicas e algumas pistas de como desejas o teu texto e ele o entrega pronto. Seja este texto um discurso, uma dissertação, um panfleto publicitário, ou qualquer outro.
segunda-feira, outubro 31, 2005
Crônica
Nona Corina
odeteronchibaltazar
Nona Corina tinha "problemas" nas duas pernas. Diziam que ela tinha ossos de vidro, pois se partiam à toa. Usava uma cadeira de palha para se apoiar e se locomover pela casa a passos de tartaruga. Ela era a segunda esposa do meu bisavô materno, Estéfano, e morava com o primogênito deste, o Nono Beppi.
Apesar de suas limitações, Nona Corina trabalhava o dia inteiro na cozinha, enquanto todos iam para a roça ou trabalhar no armazém. Cozinhava sentada na boca do fogão, lavava louças apoiada à pia, fazia crochê e os remendos das roupas que usavam na lida do campo, sentada em um banco ao lado da sua cama. E ainda fazia coroas. Coroas para os mortos.
Eu me encantava com a rapidez com que ela criava as rosinhas de papel crepon e ia colocando no arco de arame.
Eram tantas as cores! Brancas e azuis para os pequeninos e as virgens. Lilazes para os adultos. A purpurina colocada nas beiradas das flores deixavam meus olhos cintilantes.
Em vésperas de finados, o quarto dela virava atelier e aquilo tudo era uma festa para a netarada (na verdade, bisnetarada).
Eu tinha uns cinco anos e gostava de ficar com ela enquanto minha mãe tinha algum compromisso fora de casa. E eu tinha minhas razões.
Além de poder ficar na cama (altíssima) com ela, eu ainda podia ter uma chupeta, que era proibida pelos meus pais, mas que a nona Corina me dava na maior sem-cerimônia. Eu ficava horas, ao lado dela em silêncio enquanto ela rezava, sentada no seu banco ao lado da janela, de onde avistava a rua quieta.
Eu ficava imaginando que ela rezava para os mortos de todas aquelas coroas que fazia a cada ano. E eram muitos! Enquanto isso, eu cochilava, embalada pelos murmúrios da oração.
Sua intimidade com a morte era tanta que mandou construir o seu túmulo no cemitério da cidade. Essa coisa toda era bizarra demais para nós. Para ela, uma simples precaução.
Ela demorou a usar seu lugar no cemitério. Partiu em dia de temporal e muita chuva. Eu já era moça e estava longe, na capital, fazendo faculdade.
Lamentei, mas não tive lágrimas para a Nona Corina. Apenas orações, como ela fazia para seus mortos.
Ela devia estar feliz, andando com suas pernas sadias e fazendo flores, muitas flores de papel crepon.
odeteronchibaltazar
odeteronchibaltazar
Nona Corina tinha "problemas" nas duas pernas. Diziam que ela tinha ossos de vidro, pois se partiam à toa. Usava uma cadeira de palha para se apoiar e se locomover pela casa a passos de tartaruga. Ela era a segunda esposa do meu bisavô materno, Estéfano, e morava com o primogênito deste, o Nono Beppi.
Apesar de suas limitações, Nona Corina trabalhava o dia inteiro na cozinha, enquanto todos iam para a roça ou trabalhar no armazém. Cozinhava sentada na boca do fogão, lavava louças apoiada à pia, fazia crochê e os remendos das roupas que usavam na lida do campo, sentada em um banco ao lado da sua cama. E ainda fazia coroas. Coroas para os mortos.
Eu me encantava com a rapidez com que ela criava as rosinhas de papel crepon e ia colocando no arco de arame.
Eram tantas as cores! Brancas e azuis para os pequeninos e as virgens. Lilazes para os adultos. A purpurina colocada nas beiradas das flores deixavam meus olhos cintilantes.
Em vésperas de finados, o quarto dela virava atelier e aquilo tudo era uma festa para a netarada (na verdade, bisnetarada).
Eu tinha uns cinco anos e gostava de ficar com ela enquanto minha mãe tinha algum compromisso fora de casa. E eu tinha minhas razões.
Além de poder ficar na cama (altíssima) com ela, eu ainda podia ter uma chupeta, que era proibida pelos meus pais, mas que a nona Corina me dava na maior sem-cerimônia. Eu ficava horas, ao lado dela em silêncio enquanto ela rezava, sentada no seu banco ao lado da janela, de onde avistava a rua quieta.
Eu ficava imaginando que ela rezava para os mortos de todas aquelas coroas que fazia a cada ano. E eram muitos! Enquanto isso, eu cochilava, embalada pelos murmúrios da oração.
Sua intimidade com a morte era tanta que mandou construir o seu túmulo no cemitério da cidade. Essa coisa toda era bizarra demais para nós. Para ela, uma simples precaução.
Ela demorou a usar seu lugar no cemitério. Partiu em dia de temporal e muita chuva. Eu já era moça e estava longe, na capital, fazendo faculdade.
Lamentei, mas não tive lágrimas para a Nona Corina. Apenas orações, como ela fazia para seus mortos.
Ela devia estar feliz, andando com suas pernas sadias e fazendo flores, muitas flores de papel crepon.
odeteronchibaltazar
domingo, outubro 30, 2005
de saudades
de saudades
odeteronchibaltazar
A saudade teceu um manto
sobre minhas palavras
que estão,
agora,
frias e caladas.
Já não adianta
as teias e seus cristais luzirem nas manhãs
pois meus olhos adormecerão
como sensitivas ao toque.
E as vozes dos riachos
entoarão,
à toa,
as cantigas.
E as folhas mortas
esquecerão de dar cores ao outono
ou de abafar o som dos meus passos fugidios.
Já não adianta o amanhecer com suas promessas
pois que a saudade se instalou
definitivamente em meus dias.
odeteronchibaltazar
***********
saudades
odeteronchibaltazar
E hoje teve a saudade,
triste verdade,
dos versos teus,
dispersos carinhos,
neste meu solitário céu.
E hoje teve a lágrima,
teimosa prova
da falta que me faz
um pouquinho
do riso teu.
E hoje teve a música,
senha nua,
anunciando marota,
teus esperados passos.
Hoje, que triste,
só não teve teu braço,
doce refúgio,
que me esconderia o cansaço,
me fazendo só tua.
odeteronchibaltazar
*******
de saudades, sempre...
odeteronchibaltazar
Hoje,
me perfumei com saudades,
olhando teu retrato amassado,
lembrança há tempos escorrida,
neste meu mundo quebrado.
Nas sobras do choro,
costuro a vida,
e me escondo da tua ausência doída.
Nas dobras do olho,
já não consigo
desfazer o nó que,
há muito tempo,
eu fiz,
nestas minhas duras esquinas.
odeteronchibaltazar
*******
Saudade
odeteronchibaltazar
Sei que a saudade vai machucar,
mas saudade
é um presente maroto,
presente de grego,
que sempre me dás,
com tuas flores,
tuas dores,
tuas rimas
e teus muitos amores.
Tão bons momentos,
não poderão ficar
no esquecimento
nestas voltas
que a vida dá.
Guarda-me um pouquinho
em seu coração,
pois sou pequenina,
menina faceira,
tão cheia de manha,
e caibo todinha,
inteirinha em tua mão...
odeteronchibaltazar
quinta-feira, outubro 27, 2005
de segredos
Guardador de meus amores
odeteronchibaltazar
Te contei os meus segredos,
imaginando
te fazer
cúmplice dos meus medos,
te tornar
confessor dos meus pecados
e esperar,
contrita, o perdão.
Fazer terapia descompromissada,
sem horário ou remuneração.
Aluguei teus olhos e ouvidos,
ocupei teu espaço e tuas horas,
pensando estar
incluídos, no contrato,
teus sentimentos
e também teu coração.
odeteronchibaltazar
*********
Segredos
odeteronchibaltazar
Conta-me das tuas andanças
e das tuas fogueiras que,
em noites insones,
consumiram sonhos e
iluminaram pesadelos.
Fala-me das tuas nuvens
em tempos de chuvas e temporais.
Conta-me dos teus dias,
alegres ou tristes,
diferentes ou iguais.
Canta-me as tuas canções
que entoavas em silêncio
com medo de acordar.
Conta-me de teus suspiros
e de teus soluços
e de teu chorar.
Sussurra-me os nomes
que não queres mais gritar .
Desenha-me os sonhos e as danças
que tens escondidos em tuas mãos.
Alcança-me teus braços e,
depois,
fica para sempre,
quieto,
em paz,
em meu regaço.
Não serás mais triste,
eu te prometo!
Nunca mais.
odeteronchibaltazar
***************
Secrets
odeteronchibaltazar
As feridas
abertas na tua partida
o benfazejo tempo as fechou.
As lembranças,
guardo-as entre meus lenços
misturadas ao cheiro
das tuas palavras
e cada cor da tua voz.
E embora eu
viva cada música
que escutei contigo em surdina
mantenho-as em mim
silenciosas.
E se irão comigo
assim como tua memória.
Somente o vento contará
em segredos
aos enamorados do parque
as juras que fizemos
há tanto tempo atrás.
odeteronchibaltazar
quarta-feira, outubro 26, 2005
Crônicas
O anel
odeteronchibaltazar
Aos meus sete anos, comecei a ir para a Catequese para aprender a doutrina da religião católica, como faziam todas as crianças da minha idade, no meu bairro.
A doutrina era aos sábados, à tarde, na igreja e era dada por catequistas , que eram mocinhas da comunidade.
Sentávamos nos bancos da igreja, e eu ficava distraída, olhando os afrescos bem pintados da igreja. Eram muitos e todos contando alguma história da Bíblia: o dilúvio e Noé, com os animais todos enfileirados; a sarça ardente com o "fulano" espantado na frente (agora esqueci o nome, e na época eu nem sabia também...); a criação do homem num jardim maravilhoso...hã?
- Hã? hum...o quê?
Era eu, toda atrapalhada, tentando voltar à realidade e tentando responder à catequista:
- O pai é Deus? -- perguntava ela a todos (ainda bem).
E todos gritavam bem alto a resposta, fazendo ecoar na igreja, que me parecia enorme pra minha meninice:
- Sim, o Pai é Deeeeeeus...
- O Filho é Deus? a catequista prosseguia.
E nós, tentando parecer muito entusiasmados:
- Siiiiimmmm! O Filho é Deeeeeeus!
E lá vinha mais uma pergunta misteriosa:
- O Espírito Santo é Deus? a esta altura, eu já estava confusa, mas respondia prontamente, tudo decorado, na ponta da língua:
- Siiiimmm! O Espírito Santo é Deeeeus!
Até hoje, lembro destas perguntas, e as faço ainda...
Mas, deixa estar que nesse dia , eu havia passado no bar, em frente à igreja, onde comprávamos as guloseimas todas e tinha comprado as balas antes da Doutrina, ao invés de comprá-las na volta. Sempre tínhamos uns trocados para as balas e picolés, mas sempre deveriam ser comprados na volta.
Eu havia comprado umas balas que vinham em caixinhas fechadas com brindezinhos de plásticos e que exerciam uma tremenda fascinação em mim. Naquele dia veio um anel de metal dourado com pedrinha de plástico colorido.
Chupei a bala (deliciosa), coloquei o anelzinho no dedo e durante toda a doutrina fiquei a botar e tirar o anel do dedo. Chegou até a cair a tal da pedrinha colorida.
Então, coloquei o anel na boca e comecei a mastigar o metal. Mastiga cá, amassa lá, morde acolá, e ops!
glup...hgun... ENGOLI!
- Engoli o anel! -- falei pra catequista, atenta aos catequizandos.
E desandei num choro convulso, apavorada, fazendo a catequista ficar endoidecida atrás de água (para me fazer engolir melhor o anel, eu pensei na hora).
Muitas águas e lágrimas depois, voltamos à doutrina , mas todos olhavam para mim como se eu fosse uma misteriosa engolidora de anéis...
Pior foi chegar em casa, com minha irmã mais nova fofoqueira, alardeando pra quem quisesse ouvir:
- Mãe, a Dete engoliu um anel!
E a minha mãe depois de ouvir toda a história, fala muito faceira e calma:
- Ainda bem que a Dete mastigou bem o anel, antes de engolir.
odeteronchibaltazar
********************
CENA RURAL
odeteronchibaltazar
Eu não entendo nada de bois, embora tenha sido criada no meio deles. Meus avós tinham para o gasto da casa, quero dizer, tinham vacas com leite e gado para corte (ui, que medo!).
Vivia brincando nos pastos com bosta, sabe aquelas? Aliás, meus pais se conheceram em uma guerra de bostas. E é uma história muito romântica esta que vou contar-lhes.
Minha mãe tinha ido visitar uns parentes, no Caravaggio (município de Nova Veneza, Santa Catarina), bairro vizinho do Rio Maina, onde ela morava.
Lá pelas tantas da tarde, minha mãe e as primas foram chupar laranjas, mais precisamente vergamotas. Naquela região, tem-se o costume de separar terras com árvores frutíferas; na maioria das vezes, com pés de vergamotas, que têm espinhos para evitar a saída do gado e, ainda assim, os frutos são aproveitados.
Pois bem, estavam chupando as tais vergamotas e ouviram uma conversa do outro lado das vergamoteiras, que eram as terras do João Ronchi (meu avô paterno). Ficaram curiosas e, em silêncio, tentaram escutar algo, mas o que ouviram foi um splashhhh! do lado delas. Era uma enorme bosta de vaca, daquelas moles e bem frescas, que caiu bem perto da minha mãe. Ainda meio surpresas com a petulância daqueles "bugres", não perderam tempo: minha mãe foi à cata de munição e as primas ajudaram-na a iniciar a batalha.
Era um tal de voar bosta para todos os lado, e minha mãe ficava doidinha, evitando se sujar. Um tanto impossível, já que a melhor munição era exatamente aquela mais mole...
Cessada a guerra, com sujos e embostados de ambos os lados, risadas correndo soltas, as duas facções se encontraram e buon giorno daqui, buon giorno de lá. Meus futuros pais ficaram se olhando nos olhos claros e, lá mesmo, no romântico cenário rural, marcaram de se encontrar na domingueira. Ali, naquela guerra de bosta, eu já era um projeto divino...
odeteronchibaltazar
***********************
Tempos da nona
odeteronchibaltazar
Quando criança, lembro tão bem, íamos na casa da nona, depois da janta. Ficávamos todos na grande cozinha a conversar.
Minha mãe falava com meu avô em italiano, e eu me punha, atenta, a escutar, mas nada entendia. Fingia que entendia , mas o bordado não saía do pano. Me contentava com o som gostoso das vozes, como se fossem segredos contados ao pé do ouvido. Ficava meio grogue, me deixando levar pelo som letárgico das falas em dialeto, e aquela cantilena me dava um sono...e de mais nada eu tinha medo.
Queria que o tempo parasse para ficar ali, assim, sentada ao pé dos adultos, no chão vermelho e bem encerado da cozinha. Queria ficar ali, assim, esperando o café com leite e o pão da nona que sempre enchia a mesa farta, a polenta fria, que sempre sobrava do almoço, o queijo "guitchi-guitchi", (um queijinho bem magro que fazia esse som ao apertá-lo, feito pela nona Corina, que na verdade era minha bisnona), o salame, a mortadela...Tudo feito em casa. Dá água na boca só de lembrar!
Quando já os olhos queriam colar, voltávamos para casa, a pé, pelas ruas escuras. Naquela época não tinha iluminação nas ruas do Rio Maina. Minha irmã mais nova ia no colo. Nesse tempo o meu irmão caçula, o Bertino, não era nascido.
Então, nessa hora, eu tinha medo. Muito medo. Agarrava a calça do meu pai e, de olhos bem fechados, pé ante pé, só os abria em casa, tendo até a alma suada.
Lembro da sensação de colocar o pé no escuro sem saber onde o estaria colocando. Lembro do barulho dos nossos passos no silêncio da noite. Lembro do carinho quente da cama, depois desta caminhada. Lembro...
Feliz lembrança, de um tempo gostoso. Tempo tão fugidio! Lembranças tão boas, de deixar a alma lavada.
odeteronchibaltazar
A rural do nono
odeteronchibaltazar
A Rural do nono Jão era igualzinha a esta aí do comercial. Metade amarela, metade bege. Era o máximo em condução no início dos anos 60, essa Rural (pronunciado com o 'r' bem brando, com a língua bem solta. Nada de erre arrastado).
Descendente de italiano que se preze, troca a pronúncia dos erres todos. Quando é brando, como no caso de 'areia', fala arrastado. Quando é forte como no caso de 'rei', fala suave. Assim era a palavra Rural. Coisa difícil de se pronunciar! A língua não obedecia.
A rural do nono servia a todos os filhos e netos já que, naqueles tempos, nem todo mundo tinha carro, não. Então era um tal do nono levar a gente para cá e para lá que nem se fala. E que emoção! Pena que criança ia sempre atrás, na parte que ficava em cima dos pneus e era duro pra danar, sacolejava que nem burro de carga. Mas só o fato de estarmos na Rural do nono compensava tudo.
Lembro de uma vez que fomos em São Luis, no município de Imaruí, para pagar uma promessa que a minha mãe tinha feito à Beata Albertina. Nós morávamos em Rio Maina, distante uns 200 km mais ou menos.
Fomos na rural do nono. Minha mãe ia com meu irmãozinho no colo, que na época, deveria ter uns três meses. O nome, Albertino, era em homenagem à beata. A minha irmã (com 5 anos) e eu (com 7 anos) fomos atrás no balança a barriga-e-o-estômago.
Enquanto a estrada era sem muitas curvas, tudo foi bem. Mas quando começamos a subir a serrinha cheia das reentrâncias e concavidades não deu outra: vomitei tudo o que tinha e o que não tinha comido.
A cada quinze minutos, o nono era obrigado a parar por conta de meus faniquitos. Eu desidratava por completo, pois logo começou a diarréia por conta do nervosismo. Que situação!
Não lembro o que aconteceu com a minha irmã, pois estava tão envolvida com meu enjôo que não conseguia concatenar uma simples idéia que fosse.
Também não consigo lembrar de mais nada, pois meus neurônios devem ter sumido de tanta desidratação!
A promessa foi paga, meu irmão ficou bom (ele tinha o fêmur deslocado) e a rural do nono deixou de ser um grande atrativo. Pelo menos para mim.
Depois dessa viagem não consigo andar em carros a não ser que seja no banco da frente e não posso olhar para os lados, pois corro o risco de expulsar o conteúdo do estômago.
Se tenho saudades da rural do nono? Tenho, sim. Saudades daquele tempo tão quieto, onde tudo andava com mais calma, onde eu podia marcar cada passo que era dado, guardar cada sorriso, cada lágrima, sem correr o risco de ficar sem tempo. Tenho saudades, sim. Muitas! Saudades até da rural do nono.
odeteronchibaltazar
sexta-feira, outubro 21, 2005
De poetares
Sina de poeta I
odeteronchibaltazar
Neste criar/recriar,
minhas palavras vêm de mim,
mas não são minhas.
Quando as quero,
já não estão.
Alçaram vôo
e estão por sua própria conta
em bocas e olhos alheios,
que espiam seus significados
e desvendam meus mistérios.
Quero um nome,
mas destôo do canto geral.
Nesta sina de poeta,
solitária lida,
tenho tudo,
mas estou tão somente só.
Ó palavras, vivas palavras!
Ainda estarão aqui,
mesmo depois de eu virar pó...
odeteronchibaltazar
*********
Sina de poeta II
odeteronchibaltazar
Minhas palavras nascem tímidas,
personagens medrosas da minha vida.
Escondem-se em significados singelos
dão sorrisos e abraços
andam soltas nem bem amanhece o dia
passeiam de camisola e chinelos
por poemas insones,
teimosos,
querendo ser amanhecer
querendo estar livres
de qualquer laço
que os prendam
a oníricos estados.
Voam borboletas,
asas úmidas
recém libertas dos casulos.
Gritam cores, brilham sons
em meus secretos dias.
Dançam vívidas,
inconscientes
de sua própria energia.
odeteronchibaltazar
******
Poetar
odeteronchibaltazar
Alguém me disse
que poetar era
esvaziar a alma.
Não discordei -
nem disse ok.
Poemar,
é prazer
(chamaria de tesão).
É energia, que,
de mansinho,
enche a alma,
e sai na mão.
É econômica terapia.
É sentimento transmudado
em concreta expressão.
Palavras transformadas -
completa satisfação.
******
Inconstâncias poéticas
odeteronchibaltazar
Quantas vezes,
minh'alma louca,
vida pouca,
ao mundo quer gritar...
Mas minhas mãos,
paralíticas,
por demais analíticas,
sufocam-me,
negam-me poemas,
deixando-me sem meu ar.
Noutras vezes,
mudo de espanto,
meu coração nem quer se mostrar.
Mas meus dedos,
teimosos,
com jeitinho,
fazem cócegas,
teclam rapidinho,
e meus sentimentos,
ao mundo,
correndo,
vão mostrar...
quinta-feira, outubro 20, 2005
Crônica
Cine Guarani
odeteronchibaltazar
O Cine Guarani foi um dos personagens da minha infância e adolescência. Era da família. O proprietário era meu tio, então, desde muito pequena, com os privilégios de sobrinha, já assistia a filmes, mesmo com censura dez anos. Alguns eram filmes de terror que eu assistia assombrada, no colo da minha mãe.
O cinema era programa obrigatório nos finais de semana e ponto de encontro dos namoradinhos da época. Aliás, o meu primeiro encontro com meu primeiro namorado foi na matineé do domingo. Lá estávamos nós, no escurinho do cinema e a película se desenrolando na tela. Era um filme qualquer de guerra e eu não conseguia prestar atenção. Tinha mais o que fazer, com tanta emoção rolando no meu coração. Lá pelas tantas, leio o nome de uma das personagens do filme, Emília, e sussurro para ele: é o nome da minha mãe! e ele retruca: o nome da minha também! Fiquei nas nuvens e senti que era um sinal do céus. Deixei que ele pegasse na minha mão sem culpas e saí do cinema na nuvens.
Assisti a todos os filmes do Tarzan com a Jane e a Chita, Mazzaropi e suas estrepolias, os épicos de aventuras como Maciste com seus atores sarados, Ben-Hur, Cleópatra, Sissi e suas românticas aventuras... Marcelino, Pão e Vinho... Todos os de faroeste eu também vi. E toda sexta-feira Santa, à tarde, era dia da Paixão de Cristo. Filas imensas se formavam na bilheteria e muitos assistiam ao filme nos corredores, em pé. Eu vi este filme muitas e muitas vezes e a cada cena triste, eu saía dos bancos e ia para a frente do cinema, onde a minha tia tinha o baleiro e ficava disfarçando até a cena passar. Aí, eu voltava e sentava de novo. Quantas vezes eu fiz isto! Era só aparecer cena de pancadaria ou de sangue que eu corria ao abrigo.
Meus primos é que passavam o filme junto com o meu tio. Era um orgulho pra mim saber que eles estavam lá, na sala de projeção, controlando tudo. Sentia-me poderosa e parte daquela magia.
O Cine Guarani enche-me de lembranças que passam como se fora uma sessão de cinema. Abrem-se as enormes cortinas de brocado verde e me vejo em um filme romântico, com direito a pipoca, cartucho americano ou torradinho. Vale a pena ver tudo de novo... Vale ter saudades em cinemascope colorido. Vale sentir este momento mágico.
odeteronchibaltazar
sexta-feira, outubro 07, 2005
Esquisito
odeteronchibaltazar
Minha vida,
um mosaico arrumado,
de sobreviventes cacos jogados.
Pedaços ajuntados,
em repentes egocêntricos.
Fragmentos descoloridos
compõem meu traçado esquizofrênico.
Partes dispersas,
tentam unir
o meu tipo esquizotímico,
que nem o eletrochoque
conseguiu reunir...
Neste multifacetado composê
em que a vida dá seu toque,
colo os pedaços,
em versos rítmicos,
e os ofereço a você...
odeteronchibaltazar
*******
Vosso é o ventre
odeteronchibaltazar
Vermelho e túrgido
era o ventre
pronto para sementes,
pronto para fecundos.
Fértil campo,
criação interina.
Preparado o terreno,
crescia o verso,
instalava-se o credo,
corria a vida
em vales profundos.
Era ali que nascia
a palavra,
úmida,
vertendo significados.
Era ali...
E era ali
que eu crescia
pequenina,
uterina,
todos os dias...
odeteronchibaltazar
*********
InTemporais
odeteronchibaltazar
Escritos de ontem,
pedaços de mim,
já disformes,
procuram-me,
querendo ser amanhã.
Meu tempo escorre,
pede respostas em meu coração solto,
envolto em in/temporais palavras vãs.
Que dizer dos seus significados,
mortos, agora,
deixados de lado,
esquifes depositários de idéias malsãs?
Tem de haver uma hora
em que minhas sonânbulas palavras
acordem e dêem o grito final.
Então,
e só então,
verei que meus versos
não foram em vão.
odeteronchibaltazar
quinta-feira, outubro 06, 2005
Meu amigo Cândido, de Portugal
Poemas para ti todos os dias:
Vou fazer meus poemas mais pesados,
Sem a etérea leveza dum lamento,
Para não mais voarem com o vento
Pró esquecimento desse mar salgado.
Faz deles teus anéis de namorada,
Ornamentando dedos tão gentis,
Vais ver como te sentes mais feliz
Ao senti-los na pele arrepiada.
Não chores os perdidos, afogados,
Guardanapos velhinhos rascunhados,
Em madrugadas de doidas euforias.
A linda e rubra musa que me inspira
Vem me trazer, no som da sua lira,
Poemas para ti… todos os dias.
Cândido, 17/05/2005
***********
Dobrando esquinas
Minha primeira esquina era uma curva
Que ia desta minha alma para Deus,
Passava por alguns neurónios meus
Teimosos em banhar-se em água turva.
Minha segunda esquina foi dorida:
Sofrido adeus aos meus queridos pais,
Com lágrimas vertidas sobre o cais,
Onde embarquei com rumo à minha vida.
Minha terceira esquina era o futuro,
Aquele salto ousado para o escuro
Onde havia tormentas e cadilhos.
A minha quarta esquina é o dilema
Entre a garota em forma de poema
E a mãe que ainda procuro prós meus filhos.
Cândido, 14/06/2005
***************
Os teus versos
Estes versos têm algo de divino
Com muito de profano misturado
Como o som ideal dum violino
Nas mãos dum Paganini masturbado.
Estes versos são como orações
Rezadas por ateus ajoelhados;
São expressão de fé das procissões
Em honra dalguns santos debochados.
Estes versos têm expressões de amor
Macias como pétalas de flor
Orvalhadas com beijos de lasciva.
Têm o ritmo, o feitiço e o encanto,
Dum erótico samba que te canto
Na voz dessa cor rubra que cativa.
Cândido, 1/07/2005
************
Sonhos de poeta
Os sonhos de poeta são etéreos...
Têm o perfume rubro da loucura,
A leveza macia da ternura,
E a fria solidão dos ermitérios.
Os sonhos de poeta são brancuras
Tão alvos como o linho e a luz da lua
Não têm morada certa, não têm rua,
E perdem-se em utópicas lonjuras.
O sonhos de poeta são sementes
A germinarem trágicos poentes
Duma vida difícil de viver.
O sonho dum poeta estende os braços
A procurar por todos os espaços
Aquele amor que um dia se perdeu.
Cândido, 19/09/2005
**********
Fraco marinheiro
Eu senti-os partir nas caravelas
E vi mães orgulhosas a chorar
Ouvi poemas com sabor a mar
Dalgum fado vadio das vielas.
E as noivas, corajosas, foram elas
Que lhes disseram: -Ide marear!
E esperaram até vê-los chegar
Com vento de feição nas pandas velas.
Eu nunca passarei além da dor,
Pois nunca fui pra lá do Bojador…
Fiquei aqui esquecido, triste e só.
E agora com os olhos rasos de água
Não sei que hei-de fazer da minha mágoa...
Acho que vou fugir pra Tigipó.
Cândido, 01/10/2005
Conto
Quase-perfeito
odeteronchibaltazar
Não fosse aquela dorzinha insistente na cabeça, estaria tudo perfeito. Luzes acesas, tvs ligadas, todas no mesmo canal, ventiladores girando no teto, ar condicionado ligado no máximo. Tudo fresquinho, quase gelado, agradável na semi-obscuridade solitária da casa. Um sossego..
Sentou no sofá depois do banho tomado, com um prato de frutas: uvas crocantes, deliciosas, geladinhas. Gostava de sentir o bago estourar entre seus dentes e o sumo escorrer goela abaixo. Precisava estar assim, com os bagos bem firmes para ser bom e sentir o croc gostoso na boca. Não fosse a fisgadinha na cabeça, tudo estaria mais que perfeito. Quão pouco precisava para ser feliz! A solidão, a temperatura geladinha e as uvas.
Sozinha, sem compromissos, sem esperas, sem horários, sem cobranças, cabelos molhados e despenteados, camisolão velho e furado em vários lugares por cima do corpo nu, pés em cima da mesa de centro. Como era bom estar só!
Perfeito! Não fosse a dorzinha insistente que nem mesmo o analgésico conseguira anular, ali, naquele momento, seria o céu.
Nenhum barulho lá fora, nenhum carro, ninguém para esperar. Solidão desejada. Solidão amada.
Continuou a comer as uvas e a sentir o estalar crocante e molhado na boca. Olhava a tv, sem prestar atenção. O suco ainda escorria por seus lábios quando caiu inerte, de bruços, no chão sobre as uvas, quebrando o prato.
A dor de cabeça passara, pensou...ah, agora sim, estava no céu.
No dia seguinte, o caseiro da fazenda encontrou-a deitada no chão entre cacos e uvas, mortinha da silva, como explicou ao delegado. A porta estava aberta e tudo assim, ligado e aceso. Pensei que não tinha ninguém e vim apagar as luzes, seu moço, como sempre fazia, explicou depressa.
Ela estava com um sorriso tranqüilo, como se estivesse tudo em ordem. Tudo estaria perfeito, não fossem aquelas moscas voejando ao redor da sua boca...
odeteronchibaltazar
*odeteronchibaltazar mora em Florianópolis SC
É formada em Literatura Brasileira pela UFSC
Tem trabalhos publicados em quatro antologias com autores da net
Participa ativamente de grupos literários da internet.
quarta-feira, outubro 05, 2005
Tessituras
odeteronchibaltazar
Teci meus dias em solidão
e eram de ausências as minhas noites.
Nunca estive tão longe,
e embora eu mantivesse os pés no chão,
meus olhos andavam em
tuas nuvens.
E enquanto bordava meus versos,
olhava no distante horizonte
buscando, de ti, um sinal.
Fiquei tempos sem uma nota,
um cheiro,
sem uma luz ao final.
Agora desisti de estar vazia.
Quero estar plena
buscar outros amores,
cantar outras partituras,
e deixar de procurar por tua mão.
sexta-feira, setembro 30, 2005
Vento Sul
odeteronchibaltazar
Este vento
com cheiro de ausências
invade meus versos,
bate em minha boca
e arrasta pelas noites
o roçar de teus lábios.
Este vento,
que se enovela
pelas ruas desertas,
canta triste pelas frestas
e traz solidão aos meus dias.
Este vento ciumento
diz-me coisas de tua vida,
mexe com minha saudade,
estende minha dor,
prolonga minha agonia.
odeteronchibaltazar
*******
de asas e de mim
odeteronchibaltazar
Foste meu sonho,
minha esperança,
meu ar.
Foste a asa primeira
que me impulsionou a voar.
Agora sem ti
fico assim,
querendo estar aí,
mas não tendo forças
nem para caminhar.
Foste a sedução,
o carinho,
a paz.
Foste a minha inteira paixão.
Agora sem ti,
fico aqui,
sem tuas asas,
e querendo muito,
mas sem poder,
sair deste frio chão.
Volta, amor,
que se faz tarde
e eu preciso de ti para sonhar.
odeteronchibaltazar
************
Bipartição
odeteronchibaltazar
Divisão de minh'alma
em claros-escuros
frágeis e veludos
fortes e duros.
Partição de meu destino
em caminhos e muros
em sons doces
ácidos e amaros
em sabores graves e agudos.
Separação de meu verbo
em ser ou não ser
em falar ou não dizer.
Desunião das minhas fontes
em rir e chorar
calar ou gritar.
Sou simples
una
mas inteiramente
uma fissão nuclear.
odeteronchibaltazar
********
Risco inútil
odeteronchibaltazar
Escrevo meus dias
em papéis translúcidos,
sem segredos,
sem mistérios
e sem encantamento algum.
Onde o glamour?
Onde a novidade
onde as fantasias?
Sonhos soltos,
perdidos,
embrulhados em rotinas,
em eternos medos.
Frisson? nenhum...
E em viver sem brilho,
sem fama,
sem lama,
sigo assim,
anônima criatura,
acomodada em ternuras,
invisível,
sem graças alcançadas,
e muitas mil promessas
não cumpridas.
odeteronchibaltazar
quinta-feira, setembro 29, 2005
Poetrix by odete
Cores
Meus versos tortos
fazem arco iris
para os meus dias.
***********
De(s)corada
Em dias de chuva
trans(a)pareço
em semi tons.
***********
Verão
Lagarteando ao sol
viro camarão
no bafo.
*************
Inverno
Entre uma xícara
de chá e outra,
esquento a vida com versos.
*************
Outono
As árvores, nuas,
exibem silhuetas
de provocar inveja.
**************
Primavera
Arco íris
caído
no meu jardim.
Meus versos tortos
fazem arco iris
para os meus dias.
***********
De(s)corada
Em dias de chuva
trans(a)pareço
em semi tons.
***********
Verão
Lagarteando ao sol
viro camarão
no bafo.
*************
Inverno
Entre uma xícara
de chá e outra,
esquento a vida com versos.
*************
Outono
As árvores, nuas,
exibem silhuetas
de provocar inveja.
**************
Primavera
Arco íris
caído
no meu jardim.
quarta-feira, setembro 28, 2005
Saudades
odeteronchibaltazar
Sei que a saudade vai machucar,
mas saudade
é um presente maroto,
presente de grego,
que sempre me dás,
com tuas flores,
tuas dores,
tuas rimas
e teus muitos amores.
Tão bons momentos,
não poderão ficar
no esquecimento
nestas voltas
que a vida dá.
Guarda-me um pouquinho
em seu coração,
pois sou pequenina,
menina faceira,
tão cheia de manha,
e caibo todinha,
inteirinha em tua mão...
odeteronchibaltazar
Crônica
Memória em quadrinhos
odeteronchibaltazar
Quando eu era menina, já adolescendo, adorava ir na casa dos meus avós. Era distante da minha casa e levávamos uns quarenta minutos para chegar lá... a pé.
A casa da nona ficava no meio de uma imensa pastagem e era lá que brincávamos com os primos ou tios.
Eu tenho um tio que é mais ou menos da minha idade, o Vilson, que fazia coleção de revistinhas do Tio Patinhas, Pato Donald, Mickey e Zé Carioca. Ele comprava todas, inclusive os Almanaques, que eram as mesmas revistinhas, só que mais rechonchudas, recheadas de histórias.
Todo esse tesouro era guardado como devia: dentro de uma grande mala velha, com cadeado, debaixo da cama, no quarto dele, onde eu não entrava por respeito à privacidade.
Não lembro exatamente em que momento ele deu permissão a mim e à minha irmã, de lermos as revistinhas. Lembro somente da emoção e do frisson que eu sentia quando ele arrastava aquela mala até a varanda e a abria, deixando livre seus tesouros. Eu não via mais nada, sentada no chão, embevecida com a leitura. Mergulhava num transe que não via o passar das horas. E depois, prêmio dos prêmios, ele permitia que levássemos alguns exemplares para que continuássemos a leitura em casa. Eu adorava esse ritual de contar as revistinhas para saber quantas estávamos levando, pois antevia o prazer de tê-las para ler e reler com calma no silêncio do meu quarto.
Até hoje, sinto o cheirinho daquelas pequenas revistas que me fascinavam e me divertiam tanto. A cor, a textura, o formato, tudo era absorvido e me marcava indelevelmente. Começava aí a minha paixão por histórias em quadrinhos pois pelos livros eu já era apaixonada desde que comecei a ler.
Acho que devo ao meu tio Vilson o meu fascínio por bancas de revistas.
odeteronchibaltazar
odeteronchibaltazar
Quando eu era menina, já adolescendo, adorava ir na casa dos meus avós. Era distante da minha casa e levávamos uns quarenta minutos para chegar lá... a pé.
A casa da nona ficava no meio de uma imensa pastagem e era lá que brincávamos com os primos ou tios.
Eu tenho um tio que é mais ou menos da minha idade, o Vilson, que fazia coleção de revistinhas do Tio Patinhas, Pato Donald, Mickey e Zé Carioca. Ele comprava todas, inclusive os Almanaques, que eram as mesmas revistinhas, só que mais rechonchudas, recheadas de histórias.
Todo esse tesouro era guardado como devia: dentro de uma grande mala velha, com cadeado, debaixo da cama, no quarto dele, onde eu não entrava por respeito à privacidade.
Não lembro exatamente em que momento ele deu permissão a mim e à minha irmã, de lermos as revistinhas. Lembro somente da emoção e do frisson que eu sentia quando ele arrastava aquela mala até a varanda e a abria, deixando livre seus tesouros. Eu não via mais nada, sentada no chão, embevecida com a leitura. Mergulhava num transe que não via o passar das horas. E depois, prêmio dos prêmios, ele permitia que levássemos alguns exemplares para que continuássemos a leitura em casa. Eu adorava esse ritual de contar as revistinhas para saber quantas estávamos levando, pois antevia o prazer de tê-las para ler e reler com calma no silêncio do meu quarto.
Até hoje, sinto o cheirinho daquelas pequenas revistas que me fascinavam e me divertiam tanto. A cor, a textura, o formato, tudo era absorvido e me marcava indelevelmente. Começava aí a minha paixão por histórias em quadrinhos pois pelos livros eu já era apaixonada desde que comecei a ler.
Acho que devo ao meu tio Vilson o meu fascínio por bancas de revistas.
odeteronchibaltazar
sexta-feira, setembro 16, 2005
de saudades
odeteronchibaltazar
A saudade teceu um manto
sobre minhas palavras
que estão,
agora,
frias e caladas.
Já não adianta
as teias e seus cristais luzirem nas manhãs
pois meus olhos adormecerão
como sensitivas ao toque.
E as vozes dos riachos
entoarão,
à toa,
as cantigas.
E as folhas mortas
esquecerão de dar cores ao outono
ou de abafar o som dos meus passos fugidios.
Já não adianta o amanhecer com suas promessas
pois que a saudade se instalou
definitivamente em meus dias.
odeteronchibaltazar
odeteronchibaltazar
A saudade teceu um manto
sobre minhas palavras
que estão,
agora,
frias e caladas.
Já não adianta
as teias e seus cristais luzirem nas manhãs
pois meus olhos adormecerão
como sensitivas ao toque.
E as vozes dos riachos
entoarão,
à toa,
as cantigas.
E as folhas mortas
esquecerão de dar cores ao outono
ou de abafar o som dos meus passos fugidios.
Já não adianta o amanhecer com suas promessas
pois que a saudade se instalou
definitivamente em meus dias.
odeteronchibaltazar
quarta-feira, agosto 31, 2005
Minha amiga, Rosa Pena
Insônia
Rosa Pena
Ah, esse cobertor
não tem jeito!
Falta calor,
descubro os pés,
para cobrir o peito.
Ah, o lençol.
Em cima dele se faz amor.
Não importa qual é a cor.
Droga!!!Apenas eu.
Desenho de uma solitária flor.
Que horas são?
Tem lua ou sol?
Ah, esta cama que balança,
de maneira anormal,
mas bem que agüenta a dança,
calçada numa lata de Nescau.
Ah, este colchão esbugalhado.
Bem que podias estar ,
bem no meio!!!!
E eu?
- Saboreando o recheio.
(março de 2004)
Escritos dispersos
odeteronchibaltazar
Pudesse eu
mandar-te as cartas que não escrevi!
Pudesse eu
cantar-te as canções
que tentei entoar em surdina.
Pudesse volar feito ave feliz em dia de sol.
Pudesse eu...
Ah, se eu pudesse,
contigo voaria,
contigo estaria, enfim.
Mas essa humana sina,
faz-me pouca,
quase nada,
Fantasias,
sonhos, só...
Deixo-me estar, então,
louca entre meus versos,
pobres delírios,
dispersos,
sem nexo,
sem fim
segunda-feira, agosto 29, 2005
Sombras
odeteronchibaltazar
Entre as sombras e a neblina,
pude ler teu nome
escrito desde há muito
em meus versos,
e pude ver teu rosto desenhado
em véus e purpurina.
Mas o tempo voou,
marcando seu compasso
em cada linha da minha fronte,
em cada traço
desta minha eterna solidão.
Agora já não há como
capturar os dias
que fogem céleres
entre os frágeis dedos
das minhas mãos...
odeteronchibaltazar
Melancolia
odeteronchibaltazar
Entre o dizer e o não-dizer
há um rio de palavras
que sequer chegam aos meus lábios
ou sequer espalham-se pelos meus escritos.
Entre o ser tua e o não-ser
há um mundo que não decifro,
há um sentimento que sequer se insinua
por medo de se perder nos meus labirintos.
Entre tu e eu
há uma distância que me prolonga os dias
perturba minhas noites
e me faz viver em agonia.
odeteronchibaltazar
04agosto05
quinta-feira, junho 23, 2005
terça-feira, maio 24, 2005
Muito além do jardim
odeteronchibaltazar
Há vinte anos o bairro onde moro tinha o triplo de vegetação de hoje que, por conta das novas construções, acabam sendo substituídas por espaços limpos, higiênicos e sem natureza alguma. Ninguém quer dispensar os cuidados que um jardim ou pomar requerem. Ninguém quer ver folhas pelo terreiro. Então acabam com tudo que possa ter o tom de verde e a cidade inteira vai se tornando cinza.
Sou apenas uma anônima defensora da natureza e seus benefícios. E nem sei se adianta fazer propaganda disto neste mundo interesseiro e frio, mas amo o verde-natureza.
O meu jardim é uma grande área em volta da casa. Tem árvores enormes e com uma certa idade, que vou podando conforme a necessidade mas que, na maior parte do tempo, são deixadas à vontade para crescerem livres. No inverno, as que ficam no jardim da frente, ficam peladinhas e as folhas secas são em grande quantidade, por isso precisa de um jardineiro pelo menos três vezes por semana.
Na primavera, o jardim de trás fica forrado com as folhas do jambolão (jamelão, baguaçu) e sua nuvem de flores. Em janeiro, são os seus frutos que colorem tudo de roxo.
Minhas árvores são intocáveis e vez por outra acabo tendo uma 'discussão' com os vizinhos que reclamam da sombra, das folhas secas, dos frutos...
Não corto, não sacrifico. Quando muito, permito uma poda para evitar maiores confusões. E assim, vivo rodeada de verde, de pássaros, borboletas, abelhas, cigarras, gambás, gatos e cães.
Plantei árvores frutíferas em pleno jardim e assim sempre tenho alguma frutinha pra beliscar. São araçás, cortiças, cerejas, pitangas, bananas, ameixas, lichias, mamão, acerola, cambucá, goiaba, laranjas, jaboticabas, anonas, tucum...
E tem as flores. Em cada época florescem diferentes espécies. As flores dos cinamomos perfumam o jardim no início da primavera. Os jasmins (gardênias), abrem-se em branco perfume nesta época do ano. As flores dos mamoeiros são uma delícia. As das laranjeiras têm perfume de anjos. As do ipê-amarelo são ouro no gramado.
Chamamos carinhosamente este nosso canto de "Paraíso" pois é aqui que nos rendemos ao sossego e aos afazeres da vida doméstica com tranqüilidade.
Enquanto eu viver, manterei este recanto em verdes e flores e acredito que será o oásis deste mundo feito de concreto e asfalto.
E a natureza me acolhe: conto os pássaros da minha janela e dou bom dia à rolinha que escolheu o tucunzeiro em frente ao meu quarto para morar, colho flores e perfumo a casa. E enquanto escrevo, os bem-te-vis gritam faceiros ao redor do ninho, o sabiá chama sua companheira para o namoro, o sinhaçu belisca o mamão e os canarinhos brincam nos beirados.
Tem cenário mais perfeito?
terça-feira, abril 26, 2005
segunda-feira, abril 25, 2005
Tão leve
odeteronchibaltazar
Tão leve,
tão leve o pensamento
que voa e vem pousar
nos meus lábios
que falo só de asas e plumas.
Tão leve, tão leve o meu amor
nos meus dedos
que escrevo só para ti
em incógnitas e brumas.
Tão leve,
tão leve a vida
no passar dos dias
que me deixo banhar
em tuas insólitas águas e espumas.
Tão leve,
tão leve o teu olhar
que preciso me apressar
antes que transpareças
e, de vez, sumas
no meu mar.
Tão leve,
tão leve o pensamento
que voa e vem pousar
nos meus lábios
que falo só de asas e plumas.
Tão leve, tão leve o meu amor
nos meus dedos
que escrevo só para ti
em incógnitas e brumas.
Tão leve,
tão leve a vida
no passar dos dias
que me deixo banhar
em tuas insólitas águas e espumas.
Tão leve,
tão leve o teu olhar
que preciso me apressar
antes que transpareças
e, de vez, sumas
no meu mar.
terça-feira, abril 19, 2005
Inconveniências
odeteronchibaltazar
Não fica bem
ter este sorriso
pincelado de batom.
Não cai bem
dançar com os pés descalços
na chuva.
Não é bom
deixar a alma solta,
não é de bom tom
ser feliz.
Cobram-me
sorrisos amarelos,
gestos medidos
olhares enviesados,
tristezas no olhar.
E eu?
O que faço com as ternuras
e as pétalas em minhas mãos?
O que faço com os amores
que trago no meu peito?
O que faço com a felicidade
que transborda nos meus dias?
Deixo-os em sedas embrulhados,
ou espalho-os,
em cinzas
no verde dos olhos teus ?
Não fica bem
ter este sorriso
pincelado de batom.
Não cai bem
dançar com os pés descalços
na chuva.
Não é bom
deixar a alma solta,
não é de bom tom
ser feliz.
Cobram-me
sorrisos amarelos,
gestos medidos
olhares enviesados,
tristezas no olhar.
E eu?
O que faço com as ternuras
e as pétalas em minhas mãos?
O que faço com os amores
que trago no meu peito?
O que faço com a felicidade
que transborda nos meus dias?
Deixo-os em sedas embrulhados,
ou espalho-os,
em cinzas
no verde dos olhos teus ?
sexta-feira, abril 15, 2005
Fantasia em sol maior
odeteronchibaltazar
Tuas palavras brotam
nas heras e se misturam ao verde,
salpicando de colorido
as minhas tardes.
Não fossem
as minhas mãos
em poesia
eu estaria chorando
pelas flores não colhidas,
estaria em nuvens fazendo alarde.
Não fosse pela música
que imagino pelo ar
estaria surda aos teus encantos.
Teus versos
nunca seriam meus
se eu não vestisse a fantasia
todas as manhãs
mal nascesse o sol.
E não seriam meus
os beijos teus
que viajam úmidos
pelos meus céus.
odeteronchibaltazar
Tuas palavras brotam
nas heras e se misturam ao verde,
salpicando de colorido
as minhas tardes.
Não fossem
as minhas mãos
em poesia
eu estaria chorando
pelas flores não colhidas,
estaria em nuvens fazendo alarde.
Não fosse pela música
que imagino pelo ar
estaria surda aos teus encantos.
Teus versos
nunca seriam meus
se eu não vestisse a fantasia
todas as manhãs
mal nascesse o sol.
E não seriam meus
os beijos teus
que viajam úmidos
pelos meus céus.
quinta-feira, abril 14, 2005
(In)satisfação
odeteronchibaltazar
Falta-me a palavra
o dizer,
a vontade.
Falta-me a noite insone
a dor que abre o peito.
Falta-me a lágrima
o lenço em despedida
o aceno triste.
Falta-me a tua ausência.
E ainda assim,
falta-me ser feliz.
Claridades
by odete
Claridades
odeteronchibaltazar
Em claros dispus
os sonhos meus,
tão luzentes
que incomodavam.
Não a mim,
que busco lampejos,
mas àqueles que
nos escuros viviam,
e o brilho queriam apagar
dos meus versos.
Sorte a minha
que tenho relâmpagos,
faíscas e brilho do sol
escondidos
nas mãos espalmadas.
O que seria de mim
sem a centelha
da minha poesia?
E meus versos
cintilam
em qualquer breu,
iluminam aqui e ali.
Clareiam o caminho meu.
Quem de mim se aproxima com calor,
tem sorte.
Brilhará tanto
ou mais que eu.
odeteronchibaltazar
quarta-feira, abril 13, 2005
Foto by Cândido (Portugal)
As coisas que tu me escreves
Cândido
Porque me falas assim,
Nessa voz tão carmesim,
Tão sedutora, c’um jeito,
Como pétalas de amor
Que o vento rouba na flor
E arrasta par a o meu peito?
As coisas que tu me escreves
São tão etéreas, tão leves,
Que eu me sinto a levitar
Num nirvana, nas alturas,
Onde nossas almas puras
Se encontram pra comungar.
Mas eu sou amor vadio
E numa ilha do meu rio
Construí uma cabana
Para os meus prazeres mundanos
Os meus amores ciganos,
Nos lençóis da minha cama.
Mas neste tempo tão frio
Essa ilhota do meu rio
Está triste, está desolada,
e por meu mal, minhas dores,
essa ilha dos meus amores
está toda desabitada.
Ai meu amor, quem me dera,
Que ao chagar a primavera
Tu pudesses ser feliz,
Na cabana colorida,
Pintura da minha vida,
Sobre lousa a paus de giz.
Até troco a minha ilha,
A quem quero como filha,
Por outro lugar qualquer,
Onde um remansoso rio,
Tenha ilhas do nosso cio,
Onde possamos amar.
Cândido, 4/03/2005
Assinar:
Postagens (Atom)