quinta-feira, outubro 20, 2005

Crônica










Cine Guarani

odeteronchibaltazar


O Cine Guarani foi um dos personagens da minha infância e adolescência. Era da família. O proprietário era meu tio, então, desde muito pequena, com os privilégios de sobrinha, já assistia a filmes, mesmo com censura dez anos. Alguns eram filmes de terror que eu assistia assombrada, no colo da minha mãe.
O cinema era programa obrigatório nos finais de semana e ponto de encontro dos namoradinhos da época. Aliás, o meu primeiro encontro com meu primeiro namorado foi na matineé do domingo. Lá estávamos nós, no escurinho do cinema e a película se desenrolando na tela. Era um filme qualquer de guerra e eu não conseguia prestar atenção. Tinha mais o que fazer, com tanta emoção rolando no meu coração. Lá pelas tantas, leio o nome de uma das personagens do filme, Emília, e sussurro para ele: é o nome da minha mãe! e ele retruca: o nome da minha também! Fiquei nas nuvens e senti que era um sinal do céus. Deixei que ele pegasse na minha mão sem culpas e saí do cinema na nuvens.
Assisti a todos os filmes do Tarzan com a Jane e a Chita, Mazzaropi e suas estrepolias, os épicos de aventuras como Maciste com seus atores sarados, Ben-Hur, Cleópatra, Sissi e suas românticas aventuras... Marcelino, Pão e Vinho... Todos os de faroeste eu também vi. E toda sexta-feira Santa, à tarde, era dia da Paixão de Cristo. Filas imensas se formavam na bilheteria e muitos assistiam ao filme nos corredores, em pé. Eu vi este filme muitas e muitas vezes e a cada cena triste, eu saía dos bancos e ia para a frente do cinema, onde a minha tia tinha o baleiro e ficava disfarçando até a cena passar. Aí, eu voltava e sentava de novo. Quantas vezes eu fiz isto! Era só aparecer cena de pancadaria ou de sangue que eu corria ao abrigo.
Meus primos é que passavam o filme junto com o meu tio. Era um orgulho pra mim saber que eles estavam lá, na sala de projeção, controlando tudo. Sentia-me poderosa e parte daquela magia.
O Cine Guarani enche-me de lembranças que passam como se fora uma sessão de cinema. Abrem-se as enormes cortinas de brocado verde e me vejo em um filme romântico, com direito a pipoca, cartucho americano ou torradinho. Vale a pena ver tudo de novo... Vale ter saudades em cinemascope colorido. Vale sentir este momento mágico.


odeteronchibaltazar

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