quinta-feira, outubro 06, 2005
Meu amigo Cândido, de Portugal
Poemas para ti todos os dias:
Vou fazer meus poemas mais pesados,
Sem a etérea leveza dum lamento,
Para não mais voarem com o vento
Pró esquecimento desse mar salgado.
Faz deles teus anéis de namorada,
Ornamentando dedos tão gentis,
Vais ver como te sentes mais feliz
Ao senti-los na pele arrepiada.
Não chores os perdidos, afogados,
Guardanapos velhinhos rascunhados,
Em madrugadas de doidas euforias.
A linda e rubra musa que me inspira
Vem me trazer, no som da sua lira,
Poemas para ti… todos os dias.
Cândido, 17/05/2005
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Dobrando esquinas
Minha primeira esquina era uma curva
Que ia desta minha alma para Deus,
Passava por alguns neurónios meus
Teimosos em banhar-se em água turva.
Minha segunda esquina foi dorida:
Sofrido adeus aos meus queridos pais,
Com lágrimas vertidas sobre o cais,
Onde embarquei com rumo à minha vida.
Minha terceira esquina era o futuro,
Aquele salto ousado para o escuro
Onde havia tormentas e cadilhos.
A minha quarta esquina é o dilema
Entre a garota em forma de poema
E a mãe que ainda procuro prós meus filhos.
Cândido, 14/06/2005
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Os teus versos
Estes versos têm algo de divino
Com muito de profano misturado
Como o som ideal dum violino
Nas mãos dum Paganini masturbado.
Estes versos são como orações
Rezadas por ateus ajoelhados;
São expressão de fé das procissões
Em honra dalguns santos debochados.
Estes versos têm expressões de amor
Macias como pétalas de flor
Orvalhadas com beijos de lasciva.
Têm o ritmo, o feitiço e o encanto,
Dum erótico samba que te canto
Na voz dessa cor rubra que cativa.
Cândido, 1/07/2005
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Sonhos de poeta
Os sonhos de poeta são etéreos...
Têm o perfume rubro da loucura,
A leveza macia da ternura,
E a fria solidão dos ermitérios.
Os sonhos de poeta são brancuras
Tão alvos como o linho e a luz da lua
Não têm morada certa, não têm rua,
E perdem-se em utópicas lonjuras.
O sonhos de poeta são sementes
A germinarem trágicos poentes
Duma vida difícil de viver.
O sonho dum poeta estende os braços
A procurar por todos os espaços
Aquele amor que um dia se perdeu.
Cândido, 19/09/2005
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Fraco marinheiro
Eu senti-os partir nas caravelas
E vi mães orgulhosas a chorar
Ouvi poemas com sabor a mar
Dalgum fado vadio das vielas.
E as noivas, corajosas, foram elas
Que lhes disseram: -Ide marear!
E esperaram até vê-los chegar
Com vento de feição nas pandas velas.
Eu nunca passarei além da dor,
Pois nunca fui pra lá do Bojador…
Fiquei aqui esquecido, triste e só.
E agora com os olhos rasos de água
Não sei que hei-de fazer da minha mágoa...
Acho que vou fugir pra Tigipó.
Cândido, 01/10/2005
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