domingo, novembro 29, 2009
Bocejo
Bocejo
odete ronchi baltazar
É pela manhã
que sinto a tua falta...
É quando acordo e
espalho a preguiça entre os lençóis,
quando me viro e não te vejo
que sinto a falta dos meus sóis
perdidos em teu olhar.
Falta-me o côncavo do teu corpo
que eu preencho com
ternura, pernas, braços e pés.
Falta-me o teu resmungar rouco,
o teu cabelo revirado,
falta o teu bocejo (nada) poético,
falta a tua roupa largada de qualquer jeito,
falta a tua displicência na hora de amar.
Que posso fazer?
Levanto-me,
visto-me com a tua ausência,
calço chinelos
e espanto o sonho que não quer acordar.
odeteronchibaltazar
quarta-feira, novembro 11, 2009
(Des)inspiração
(Des)inspiração
odete ronchi baltazar
Essa espera
que faz meus dedos tremerem
na busca de um nome
para essa ausência,
dá o tom
dos meus versos.
Nunca estive tão certa:
tua falta
faz-me pequena.
Tão mínima que
desapareço sob os raios de sol.
Transparente tecido a cobrir o sereno
na noite desestrelada
Apagada luz
no escuro.
Sem inspiração.
sábado, outubro 03, 2009
Já é outubro
Já é outubro
odeteronchibaltazar
Já é outubro
e nem vi os dias passarem
à minha janela.
Já é outubro
e me perdi dos dias
em que os teus olhos cuidaram
dos meus
e as tuas mãos brincaram
em meus sonhos
como crianças
em seus brinquedos novos.
Já é outubro
e perdi o dia
em que os meus sonhos
foram como algodão doce
em minha boca.
Já é outubro
e esqueci o dia
em que os meus risos
foram canções
pautadas em ritmo de céu.
Já é outubro
e me perdi em um tempo
que um dia foi meu...
quinta-feira, outubro 01, 2009
Novo recadinho by odete
Recadinhos by odete
Adianta vestir a fantasia?
Andar por aí em buscas inúteis?
Saltar de paraquedas,
cheirar a maresia?
Adianta chamar?
E implorar, adianta?
Ajoelhar?
Pagar fiança?
Quem sabe soletrar teu nome
e espalhar as cinzas deste amor
aos quatro ventos?
Quem sabe?
Mataria minha fome
e como Fênix renasceria
dando ao mundo mais cor.
quinta-feira, setembro 17, 2009
O que me faz feliz
O que me faz feliz
odeteronchibaltazar
O que me faz feliz
é ter chuva cantando na calha,
é saltitar na rua,
é olhar para a frente,
é ver que a noite não falha.
O que me faz feliz
são teus olhos,
é a prata da lua,
é o instante,
é a reza de joelhos,
é a cantoria das aves,
é o fim de tarde na minha rua.
O que me deixa feliz
é o chocolate na boca,
é o beijo esperado,
é o abraço apertado,
é escapar da dor por um triz.
O que me deixa feliz
é a flor de laranjeira
com perfume de anjo,
é o teu dedo
na ponta do meu nariz.
O que me deixa feliz
é não me arrepender de viver,
é caminhar ao teu lado,
é gostar de tudo que eu fiz.
odeteronchibaltazar
segunda-feira, julho 20, 2009
Rasante
Rasante
odeteronchibaltazar
Falasse eu do voo transparente
das borboletas nas lantanas
e eu teria o etéreo em minhas mãos.
Mas não falo de asas.
Falo do chão,
falo dessas pedras
onde finco meus pés inquietos
e os planto
para que não tentem
ganhar a amplidão.
Falo dos braços amarrados,
tensos,
angustiados e doídos que,
para mim própria
voltarão.
odeteronchibaltazar
quinta-feira, junho 25, 2009
Súplica
Súplica
odete ronchi baltazar
Deixa que te diga
da solidão que trago em meu peito,
do choro que treme à beira dos olhos,
do sorriso pintado em aquarelas,
dos adeuses que lamentei,
do meu verso já feito
e que não mostrei.
Deixa que te mostre
meu peito doído
e minhas mãos cansadas,
meus sonhos quebrados
e a esperança já morta.
Deixa que te mostre
minhas flores já secas,
os poemas inacabados
e a minha longa estrada torta.
Deixa que eu me mostre
assim frágil, chorosa.
Depois, nunca mais baterei à tua porta.
Imagem original: Ivan Slavinsky
segunda-feira, junho 22, 2009
Era uma vez
Era uma vez
odete ronchi baltazar
Era uma vez um amor...
(tão intenso!).
Beirava a loucura,
e sem mais procura
espalhava-se neste mundo imenso.
Foi segredo
antes que as andorinhas,
voando baixo,
espalhassem em seus gorjeios
as notas dessa paixão.
Foi nó
na garganta
esperando as pontas
para desatar no chão.
Foi lágrima,
foi riso,
foi rio,
foi mar.
Desse amor
(tão intenso)
restou
a lembrança,
um pouco
de choro,
(de riso)
sufoco
e ar.
Só memórias...
sem remédio.
Não tem como voltar.
segunda-feira, junho 15, 2009
Rainha do lar?
Rainha do lar?
odete ronchi baltazar
Segundo turno da segunda começando e eu ainda nos serviços gerais, que não acabam nunca.
Serviço de dona-de-casa é um serviço ingrato. Se a gente faz ninguém nota. Se deixa de fazer é um deus-nos-acuda! Todo mundo cai de pau em cima por causa da reviria.
Já pensaram bem quanta coisa temos que fazer para deixar uma casa em ordem?
Dona-de-casa deveria se chamar "administradora do lar", oras, pois é isso mesmo que ela é.
Vou enumerar algumas (eu disse "algumas"!) das tarefas que temos que realizar: lavar roupas, estender, recolher, passar, guardar, colocar nos cabides... varrer, passar pano, tirar o pó, cozinhar, ajeitar a cozinha depois do almoço, ou jantar... E se tiver crianças, ai, ai! A coisa fica mais complicada.
Sei. Vão me dizer que as brastemps lavam. Mas quem é que põe pra lavar, coloca o sabão, o amaciante, o clareador, a Qboa naquela manchinha? Quem engoma as toalhinhas de bandeja ou de pão? Pois é...
E o supermercado? Tem coisa mais estressante?
Faz a lista, passa nas prateleiras, põe no carrinho, passa no caixa, põe no carrinho, põe no carro, tira do carro, põe nos armários... Ufa! cansei!
E ainda tem o almoço pra fazer?
Ah, não!
Vou fazer um sanduíche que ninguém é de ferro!
E ainda tem muita coisa pra fazer... Nem pensem que terminaram as tarefas da dona-de-casa aqui.
Acho que essa história de reinar no meu lar é história mesmo. Eu sou mesmo é gata borralheira... Com avental e tudo o mais. Nem à noite viro Cinderela!
Entre louças, roupas e vassouras, desfaço os nós e os laços das fantasias diárias e entro de cabeça na realidade que não assusta, mas me deixa atenta e me diz que não é pra desistir de sonhar.
Sou teimosa, tenho sonhos nas pontas dos dedos e insisto em dizê-los aos quatro cantos do mundo.
Vamos em frente que o dia apenas começou!
quinta-feira, junho 11, 2009
Sina de poeta
Imagem de Elena Ray
Sina de poeta
odeteronchibaltazar
Neste criar/recriar,
minhas palavras vêm de mim,
mas não são minhas.
Quando as quero,
já não estão.
Alçaram vôo
e estão por sua própria conta
em bocas e olhos alheios,
que espiam seus significados
e desvendam meus mistérios.
Quero um nome,
mas destoo do canto geral.
Nesta sina de poeta,
solitária lida,
tenho tudo,
mas estou tão somente só.
Ó palavras, vivas palavras!
Ainda estarão aqui,
mesmo depois de eu virar pó...
quarta-feira, junho 10, 2009
Um beijo
Imagem - O beijo - Gustav Klimt
Um beijo
odeteronchibaltazar
Nada faltava naquele beijo?
Tinha a cor das manhãs,
o cheiro do café coado na hora
e a maciez das cobertas em dia de frio.
Era um beijo com jeito de roubado,
presente em papel de seda embrulhado
e muito laço de fita.
Um beijo com gosto de dia de folga,
sabor de batata frita.
Mais que um beijo,
a satisfação do desejo.
Era mais que um toque de lábios e línguas,
ou troca de sumos e sucos, afinal.
Era a penetração de almas em gozo.
Era puro êxtase,
tesouro precioso...
Só faltava ser real.
odeteronchibaltazar
quarta-feira, junho 03, 2009
Na pontinha dos dedos
sexta-feira, maio 22, 2009
quinta-feira, maio 21, 2009
Filosofando
Hoje, apesar do sol, apesar do friozinho que tanto gosto, estou triste.
Morreu uma amiga dos tempos de colégio e que havia reencontrado no orkut.
Estranho ver ainda o perfil dela por lá e saber que não mais existe.
Estou sensível e choro por tudo. Choro pelo medo da morte que chega tão próxima, levando-me os que estão por perto.
Temor da morte é algo que todos têm, mas eu tenho um medo tão intenso que, muitas vezes, me impede de viver.
Muitas pessoas têm na religiosidade um consolo para a morte.
Eu não.
Faz algum tempo que não me encontro na minha religião.
Não creio em mais nada e isso me deixa sem perspectiva alguma, sem um lenitivo para meus temores.
Falo pro meu terapeuta, mas o que ele pode fazer em relação a isto?
Dizer que não somos eternos é me deixar mais apavorada ainda.
Falar que tenho (?) muitos anos à frente não me consola.
Afirmar que meus queridos ficarão um bom tempo comigo não me traz paz.
O que me deixaria tranquila então?
Nem eu mesma sei.
Trabalhar e seguir com a vida sem pensar na sua finitude. Viver como se fosse para sempre. Fazer planos, realizá-los e viver intensamente a família e os amigos.
Talvez sejam essas as atitudes que devo tomar para seguir adiante sem ficar em pânico.
Pensar na morte é morrer um pouco a cada pensamento.
O que me resta é ir em frente e levantar todos os dias, fazer os mesmos atos, conversar, lavar, cozinhar, escrever, varrer, beber, sorrir, chorar, amar, sentir fome, frio, calor, raiva... Ter amores, amigos, gostar do sol, da chuva é pensar que continuarei viva, embora diferente. Átomo que se transforma, mas não desaparece.
Assim dá pra pensar que serei eterna.
Hoje estou assim, filosofando.
Morreu uma amiga dos tempos de colégio e que havia reencontrado no orkut.
Estranho ver ainda o perfil dela por lá e saber que não mais existe.
Estou sensível e choro por tudo. Choro pelo medo da morte que chega tão próxima, levando-me os que estão por perto.
Temor da morte é algo que todos têm, mas eu tenho um medo tão intenso que, muitas vezes, me impede de viver.
Muitas pessoas têm na religiosidade um consolo para a morte.
Eu não.
Faz algum tempo que não me encontro na minha religião.
Não creio em mais nada e isso me deixa sem perspectiva alguma, sem um lenitivo para meus temores.
Falo pro meu terapeuta, mas o que ele pode fazer em relação a isto?
Dizer que não somos eternos é me deixar mais apavorada ainda.
Falar que tenho (?) muitos anos à frente não me consola.
Afirmar que meus queridos ficarão um bom tempo comigo não me traz paz.
O que me deixaria tranquila então?
Nem eu mesma sei.
Trabalhar e seguir com a vida sem pensar na sua finitude. Viver como se fosse para sempre. Fazer planos, realizá-los e viver intensamente a família e os amigos.
Talvez sejam essas as atitudes que devo tomar para seguir adiante sem ficar em pânico.
Pensar na morte é morrer um pouco a cada pensamento.
O que me resta é ir em frente e levantar todos os dias, fazer os mesmos atos, conversar, lavar, cozinhar, escrever, varrer, beber, sorrir, chorar, amar, sentir fome, frio, calor, raiva... Ter amores, amigos, gostar do sol, da chuva é pensar que continuarei viva, embora diferente. Átomo que se transforma, mas não desaparece.
Assim dá pra pensar que serei eterna.
Hoje estou assim, filosofando.
sexta-feira, maio 15, 2009
Um conto
Quase-perfeito
odeteronchibaltazar
Não fosse aquela dorzinha insistente na cabeça, estaria tudo perfeito. Luzes acesas, tvs ligadas, todas no mesmo canal, ventiladores girando no teto, ar condicionado ligado no máximo. Tudo fresquinho, quase gelado, agradável na semi-obscuridade solitária da casa. Um sossego..
Sentou no sofá depois do banho tomado, com um prato de frutas: uvas crocantes, deliciosas, geladinhas. Gostava de sentir o bago estourar entre seus dentes e o sumo escorrer goela abaixo. Precisava estar assim, com os bagos bem firmes para ser bom e sentir o croc gostoso na boca. Não fosse a fisgadinha na cabeça, tudo estaria mais que perfeito. Quão pouco precisava para ser feliz! A solidão, a temperatura geladinha e as uvas.
Sozinha, sem compromissos, sem esperas, sem horários, sem cobranças, cabelos molhados e despenteados, camisolão velho e furado em vários lugares por cima do corpo nu, pés em cima da mesa de centro. Como era bom estar só!
Perfeito! Não fosse a dorzinha insistente que nem mesmo o analgésico conseguira anular, ali, naquele momento, seria o céu.
Nenhum barulho lá fora, nenhum carro, ninguém para esperar. Solidão desejada. Solidão amada.
Continuou a comer as uvas e a sentir o estalar crocante e molhado na boca. Olhava a tv, sem prestar atenção. O suco ainda escorria por seus lábios quando caiu inerte, de bruços, no chão sobre as uvas, quebrando o prato.
A dor de cabeça passara, pensou...ah, agora sim, estava no céu.
No dia seguinte, o caseiro da fazenda encontrou-a deitada no chão entre cacos e uvas, mortinha da silva, como explicou ao delegado. A porta estava aberta e tudo assim, ligado e aceso. Pensei que não tinha ninguém e vim apagar as luzes, seu moço, como sempre fazia, explicou depressa.
Ela estava com um sorriso tranqüilo, como se estivesse tudo em ordem. Tudo estaria perfeito, não fossem aquelas moscas voejando ao redor da sua boca...
odeteronchibaltazar
terça-feira, maio 12, 2009
Tarja preta
Tarja preta
odeteronchibaltazar
Eu vi a criança suja na rua
recolhendo migalhas.
Eu vi o bêbado na luz da lua,
caído e sem mortalha.
Eu vi a mãe aidética,
quase nua,
dormindo por sobre o frio asfalto.
Eu vi o garoto com fome,
cheirando cola sob a luz do sol.
Eu vi o velho desdentado na rua
pedindo compaixão.
Eu vi garotos comandando assalto.
Eu vi meninas tão pequenas,
catando comida no lixão.
Eu vi!
Eu vi tudo
mas fiz que não vi, não.
odeteronchibaltazar
Pêndulo
segunda-feira, maio 11, 2009
Recadinhos by odete
segunda-feira, maio 04, 2009
Espelho das águas
ESPELHO DAS ÁGUAS
odeteronchibaltazar
Assusto-me
com os tantos caminhos
que a vida delineou em minha boca,
em meus olhos,
em meus dias.
Não me dei conta dos traçados
inúteis
que deixei vingar.
Nem me preocupei
em construir pontes,
demarcar fontes
onde, mais tarde,
eu pudesse me refrescar.
Agora,
miro este corpo marcado,
este chão quebrado e
corro feito louca
contra o tempo.
Mas ficou tarde para retomar verdades.
Inútil querer voltar ao passado.
Imagem by Martha Moura
quarta-feira, abril 29, 2009
Letras & tintas
Letras & tintas
odeteronchibaltazar
Fico em lenta agonia
esperando tuas letras,
escritas uma a uma em minha pele,
com teus dedos em poesia...
Espero tuas tintas
que haverão de tingir,
em minhas faces,
o vermelho-rubro
de uma paixão sem fim.
E te digo, enquanto pintas:
"Não há no mundo,
um amor tão perfeito assim!"
sábado, abril 25, 2009
Presente de uma tarde de outono
Presente de uma tarde de outono
odeteronchibaltazar
Teu poema pousou suavemente em minha tarde
e eu o escondi entre os meus sonhos...
Tive medo
que voasse para longe.
Tive medo que fizesse alarde
e fugisse enquanto eu dormia.
Tive medo
que as folhas de outono
o escondessem
na fria tela do meu dia.
odeteronchibaltazar
quinta-feira, abril 23, 2009
À noite... só...
À noite... só...
odeteronchibaltazar
Falo para a noite que chega
e não encontro consolo.
Digo que não mais esperarei
mas aqui estou,
outra vez,
colando pedaços
que espalhei pelas tardes
à espera de teus beijos.
Falo somente para a noite
pois ninguém mais entenderia
esta espera
feita de cores e fitas.
Só a noite
me propicia
esconderijos nas esquinas.
Só a noite
mantém este segredo
que já nem sei guardar.
Só a noite me diz:
"Espere. Ele há de chegar!"
odeteronchibaltazar
quarta-feira, abril 15, 2009
Borboleta
Borboleta
odeteronchibaltazar
Procuro,
nas cores,
a borboleta,
- aquela -
que se deixa pousar em
minha mão.
Fica lá,
imóvel,
feito meu anel...
Lambe meus dedos,
rouba-me as flores
e deixa brilhos esvoaçantes,
deixa gotas de chuva,
sobram pingos de mel.
Nas minhas mãos
em oração
suspendo asas de cristal.
Efemeridades,
sopro divino,
frágeis leques,
pousados entre o Bem e o Mal.
odeteronchibaltazar
Foto digital by odete
quarta-feira, abril 08, 2009
Shhhhhh!
Shhhhhh!
odeteronchibaltazar
Silêncio!
Quero ouvir os passos
do meu amor que está voltando.
Ele chegará tão quieto e silenciosamente,
que pode passar despercebido...
Sei que ficará comigo...
... Mas não sei até quando...
Também sei que ficarei em nuvens.
Por favor, não me acordem,
pois sei que estarei sonhando...
quinta-feira, março 26, 2009
Nós
quinta-feira, março 19, 2009
Expresso
quinta-feira, março 05, 2009
Incurável
terça-feira, março 03, 2009
Branco
sábado, fevereiro 28, 2009
Ousadias
sábado, fevereiro 07, 2009
Ilhada
Ilhada
"Todo homem é uma ilha...
(Toda mulher é uma ilha).
É bom ser uma ilha distante
tanto quanto é bom ser um homem.
Todo homem possui uma ponte
pois é preciso sair da ilha, seguro.
A ponte de um homem é um braço estendido."
Carlos Drummond de Andrade
Quantas vezes nos sentimos ilhados,
incapazes de construir um barco
que nos transporte à outra margem.
Quantas vezes desistimos da chegada,
mesmo antes de partir.
E ali permanecemos isolados,
negando-nos qualquer auxílio,
qualquer atenção.
Destruímos qualquer
gesto,
qualquer aceno
qualquer olhar
que queira se aproximar.
E ali ficamos,
muros erguidos,
acessos negados,
portões trancados.
E ali deixamos os dias e as noites
passarem sem distinguirmos um do outro.
E ali nos largamos
sem esperança,
sem mesmo um olhar
para dentro de nós.
Encolhemo-nos dia a dia
e vamos sumindo,
virando onda transparente,
gota invisível a olho nu.
Não somos mais reconhecidos,
somos olhados através,
somos vistos de revés.
Quem, nesta hora,
poderá nos perceber?
Quem pode?
quem poderia
se nossas mãos não se erguem mais,
se nossos braços,
impotentes,
não conseguem mais
dar-nos de comer?
odeteronchibaltazar
quinta-feira, janeiro 22, 2009
Múltipla
Múltipla
odeteronchibaltazar
"Se me contemplo,
tantas me vejo,
que não entendo
quem sou, no tempo
do pensamento.
(...)
Múltipla, venço
este tormento
do mundo eterno
que em mim carrego:
e, una, contemplo
o jogo inquieto
em que padeço."
Cecília Meireles in Mar absoluto e Outros Poemas
Não quero imitar, mas acabo imitando. Ando com tantas odetes em mim, que me vejo como tantos poetas que se desdobraram em vários personagens (olhem que convencida que estou!).
Quem está escrevendo aqui é a odete-dona-de-casa-mãe-esposa-filha-irmã-poeta-amante-triste-faceira-arteira-etc-e-tal.
Vim aqui com todas as minhas odetes, mas nem sempre é assim.
Muitas vezes aparece somente a odete-poeta e esta é meio tristonha, meio down, deprimida até, e quando ela aparece, toma conta das minhas palavras e não consigo controlar. Por isso a maioria de meus poemas são tão tristonhos. Esta odete sofre e chora de verdade.
Noutras vezes vem a odete alegre, displicente, divertida até... (a que manda recadinhos). Esta adora brincar de amar. Adora um "fantasiê". Veste-se de namoradeira e sai aprontando.
Na maioria das vezes aparece a odete centrada: é a que escreve crônicas do dia-a-dia com transparência e verdade, sem enfeitar nada. Esta é a mais realista que existe dentro de mim. É a dona-de-casa, amiga dos eletrodomésticos, a que cozinha sopas ao anoitecer e espera o marido na porta de casa. É a mãe e avó dedicada. É a que brinca de casinha todos os dias.
Existe tantas odetes em mim, quantas são necessárias para cada ocasião.
O difícil é quando minhas múltiplas personalidades se misturam e eu me atrapalho toda.
Não é fácil gerenciar cada uma delas, pois a cada dia me desdobro em outras que vão aparecendo.
Sabem?
A odete-poeta fica tímida quando tem que mostrar seus poemas ao mundo. Aí entra a odete-sensata e diz: pra que você escreve se não quer mostrar ao mundo? Não precisa se envergonhar de ser tão sentimental e lírica.
Então me solto, poeta, enfim...
Esta multiplicidade de odetes já foi observada por alguns de meus leitores (vejam que chique!) que me escreveram falando do assunto e eles ficam admirados com minha abundância de identidades (eu acho que ficam atrapalhados com tanta confusão...).
E se eu desse um pseudônimo para cada minha personalidade?
Faria como Fernando Pessoa e seus heterônimos.
Hi! Acho que não devo. Vou me atrapalhar mais ainda.
Melhor deixar como está.
Assim vou sendo múltipla e dou, a vocês, o problema de descobrir qual está atuando no momento.
Saberiam me dizer quem está aqui agora?
Não quero imitar, mas acabo imitando. Ando com tantas odetes em mim, que me vejo como tantos poetas que se desdobraram em vários personagens (olhem que convencida que estou!).
Quem está escrevendo aqui é a odete-dona-de-casa-mãe-esposa-filha-irmã-poeta-amante-triste-faceira-arteira-etc-e-tal.
Vim aqui com todas as minhas odetes, mas nem sempre é assim.
Muitas vezes aparece somente a odete-poeta e esta é meio tristonha, meio down, deprimida até, e quando ela aparece, toma conta das minhas palavras e não consigo controlar. Por isso a maioria de meus poemas são tão tristonhos. Esta odete sofre e chora de verdade.
Noutras vezes vem a odete alegre, displicente, divertida até... (a que manda recadinhos). Esta adora brincar de amar. Adora um "fantasiê". Veste-se de namoradeira e sai aprontando.
Na maioria das vezes aparece a odete centrada: é a que escreve crônicas do dia-a-dia com transparência e verdade, sem enfeitar nada. Esta é a mais realista que existe dentro de mim. É a dona-de-casa, amiga dos eletrodomésticos, a que cozinha sopas ao anoitecer e espera o marido na porta de casa. É a mãe e avó dedicada. É a que brinca de casinha todos os dias.
Existe tantas odetes em mim, quantas são necessárias para cada ocasião.
O difícil é quando minhas múltiplas personalidades se misturam e eu me atrapalho toda.
Não é fácil gerenciar cada uma delas, pois a cada dia me desdobro em outras que vão aparecendo.
Sabem?
A odete-poeta fica tímida quando tem que mostrar seus poemas ao mundo. Aí entra a odete-sensata e diz: pra que você escreve se não quer mostrar ao mundo? Não precisa se envergonhar de ser tão sentimental e lírica.
Então me solto, poeta, enfim...
Esta multiplicidade de odetes já foi observada por alguns de meus leitores (vejam que chique!) que me escreveram falando do assunto e eles ficam admirados com minha abundância de identidades (eu acho que ficam atrapalhados com tanta confusão...).
E se eu desse um pseudônimo para cada minha personalidade?
Faria como Fernando Pessoa e seus heterônimos.
Hi! Acho que não devo. Vou me atrapalhar mais ainda.
Melhor deixar como está.
Assim vou sendo múltipla e dou, a vocês, o problema de descobrir qual está atuando no momento.
Saberiam me dizer quem está aqui agora?
terça-feira, janeiro 20, 2009
Altos e baixos - o efeito gangorra
Altos e baixos - o efeito gangorra
odeteronchibaltazar
Li o livro da Kay Redfield Jamison "Uma mente inquieta" e em vários relatos me identifiquei com a autora que tem transtorno bipolar, antigamente chamada de doença maníaco-depressiva.
É um transtorno onde o indivíduo se vê em fases de extraordinária produção intelectual e física, opondo-se a outra fase de completa ausência de interesses pelo que quer que seja. Fases de euforia e fases de depressão braba.
Fases como a lua: "fases de andar escondida, fases de vir para a rua", como diz a Cecilia Meireles nos seus versos.
Vou falar por mim que me trato (há bastante tempo) deste mal:
Desde que me conheço por gente, sempre tive esses altos e baixos no meu comportamento. Que eu me lembre, desde a minha infância, na época do primário, eu já apresentava surtos maníacos. Lembro de uma vez que rasguei livros e cadernos só porque não conseguia traçar uma linha com a régua e caneta sem borrar. Conseqüência: tive que remendar o livro e passar todos os "pontos" a limpo.
Pela vida afora, fui apresentando mais ou menos episódios que sempre pareciam fazer parte da minha personalidade "estranha", mas nunca tive um diagnóstico a não ser há alguns anos (há 16 anos).
Na fase depressiva o raciocínio e a concentração ficam comprometidos. Não consigo ler, escrever ou ver filmes.
Tenho fixação pela morte: medo de perder os que me rodeiam e constantemente querendo uma explicação para este tema. Não me animo a fazer nada, o sono fica perturbado com freqüentes apnéias.
Não saio porque não quero ver gente. Tenho medo de qualquer aproximação, mesmo com os mais chegados da família.
Não atendo telefone ou campainha.
Não saio para fazer compras ou cuidar de mim.
Fico horas parada com a mente perdida, sem nenhum pensamento.
Nestas horas, o choro fica fácil, a raiva fica descontrolada e, não raro, acabo quebrando objetos que estão ao alcance das mãos.
Meu estômago vive com um grande buraco e como grandes quantidades de comida até vomitar... e me arrependo depois. Não foi à toa que fiquei obesa, culminando numa gastroplastia.
Procuro comida nos armários e geladeira e acabo comendo porcarias que me fazem mal.
Na fase de mania faço tudo exageradamente e com uma alegria exacerbada, tais como: falar, comprar, escrever, limpar, amar. Nesta fase acentua-se a minha mania de limpeza e varro várias vezes o mesmo lugar.
É nesta fase que recomeço meus exercícios físicos, cuido da dieta, pinto ou corto o cabelo, faço depilação, arrumo as unhas em cores, atendo telefone, saio com as amigas.
Se vou fazer compras acabo comprando coisas que nem vou usar como por exemplo roupas, sapatos, bolsas, óculos. E me arrependo depois... Juro que não faço mais, mas acabo fazendo igual no próximo surto compulsivo.
Tudo isso que (falei) escrevi tem conseguido aparecer em doses controladas, se é que se pode falar desta maneira, já que faço tratamento psicoterápico e farmacológico. Ou seja: vou ao psiquiatra regularmente e tomo medicação apropriada.
Aceitei que tenho o transtorno bipolar e sobrevivi ao preconceito de ser uma interna de clínicas psiquiátricas e de ter feito o tratamento por eletrochoques (ECT). Já falo normalmente (?) da minha "doença", embora nem sempre meus ouvintes achem a coisa tão natural quanto o é para mim.
Os que estão mais próximos de mim, me entendem e me aceitam com minhas manias e depressões.
Não posso ficar sem meus comprimidos e/ou terapia para meu próprio bem e dos que me rodeiam, mas consigo ter uma vida praticamente normal, respeitando minhas limitações. Quem me vê nem diz que eu sou assim. Disfarço bem.
sexta-feira, janeiro 16, 2009
Minha máquina de lavar roupas aluada
Minha máquina de lavar roupas aluada
odeteronchibaltazar
Minha máquina de lavar roupas, que não é nenhuma Brastemp, mas é também famosa e de boa estirpe, de uns tempos pra cá vem apresentando um ruído estridente na lavação. É um trec-trec-trec alto e ruidoso que me incomoda o tempo todo em que ela funciona. Sabem quando parece que tem alguma engrenagem solta? Pois é...
Faz toda a programação bonitinha, tudo corretinho. Mas a barulheira é tanta, que aqui está parecendo casa de louco. Para não enlouquecer de vez, chamei o técnico, meu conhecido de outras máquinas.
Chegou, mexeu na máquina, botou pra funcionar e, enquanto eu rodeava o técnico pelas vizinhanças da área de serviço, percebi um certo silêncio. Não é que a minha ruidosa e escandalosa máquina estava rodando bela e faceira com a educação de uma lady? Silenciosa, sem trec-trec algum. Como é que é?
- O que era que fazia aquele barulho infernal? Perguntei pro rapaz.
- O que era o quê?
- O defeito, insisti.
- Não fiz nada. Não mexi em nada. Só botei pra funcionar.
- Como assim? Essa máquina estava fazendo tanto barulho que nos deixava malucos e agora está muda que nem uma porta. Nem parece ligada.
O técnico me olhava de soslaio.
- Acho que é porque está girando sem água, disse eu, achando que tinha descoberto finalmente algo importante.
Então colocamos água e sabão e até roupa, e ligamos a Dona Máquina Aluada.
Suspense! Tensão no pequeno recinto.
Tchan tchan tchan tchan!
Silêncio absoluto! Cadê o barulho? Cadê o trec-trec-trec que me enlouquecia?
Fiquei com cara de tacho.
O rapaz devia me achar uma daquelas donas de casa desesperadas por companhia, que chama o técnico de qualquer coisa, só pra ter com quem conversar.
Fiquei sem graça, sem jeito, sem assunto.
Que remédio! Paguei a visita de praxe.
Querem saber? Dois dias depois a porcaria da máquina voltou a fazer o maior estardalhaço.
Está lá, rodando sozinha na área de serviço, feito uma louca com os trec-trecs dela, aquela doida varrida! Aluada!
E agora? Chamo o técnico?
E se a máquina resolve ficar boazinha na frente do moço de novo?
(22 de setembro/2007)
terça-feira, janeiro 13, 2009
Faro
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