quarta-feira, outubro 26, 2005
A rural do nono
odeteronchibaltazar
A Rural do nono Jão era igualzinha a esta aí do comercial. Metade amarela, metade bege. Era o máximo em condução no início dos anos 60, essa Rural (pronunciado com o 'r' bem brando, com a língua bem solta. Nada de erre arrastado).
Descendente de italiano que se preze, troca a pronúncia dos erres todos. Quando é brando, como no caso de 'areia', fala arrastado. Quando é forte como no caso de 'rei', fala suave. Assim era a palavra Rural. Coisa difícil de se pronunciar! A língua não obedecia.
A rural do nono servia a todos os filhos e netos já que, naqueles tempos, nem todo mundo tinha carro, não. Então era um tal do nono levar a gente para cá e para lá que nem se fala. E que emoção! Pena que criança ia sempre atrás, na parte que ficava em cima dos pneus e era duro pra danar, sacolejava que nem burro de carga. Mas só o fato de estarmos na Rural do nono compensava tudo.
Lembro de uma vez que fomos em São Luis, no município de Imaruí, para pagar uma promessa que a minha mãe tinha feito à Beata Albertina. Nós morávamos em Rio Maina, distante uns 200 km mais ou menos.
Fomos na rural do nono. Minha mãe ia com meu irmãozinho no colo, que na época, deveria ter uns três meses. O nome, Albertino, era em homenagem à beata. A minha irmã (com 5 anos) e eu (com 7 anos) fomos atrás no balança a barriga-e-o-estômago.
Enquanto a estrada era sem muitas curvas, tudo foi bem. Mas quando começamos a subir a serrinha cheia das reentrâncias e concavidades não deu outra: vomitei tudo o que tinha e o que não tinha comido.
A cada quinze minutos, o nono era obrigado a parar por conta de meus faniquitos. Eu desidratava por completo, pois logo começou a diarréia por conta do nervosismo. Que situação!
Não lembro o que aconteceu com a minha irmã, pois estava tão envolvida com meu enjôo que não conseguia concatenar uma simples idéia que fosse.
Também não consigo lembrar de mais nada, pois meus neurônios devem ter sumido de tanta desidratação!
A promessa foi paga, meu irmão ficou bom (ele tinha o fêmur deslocado) e a rural do nono deixou de ser um grande atrativo. Pelo menos para mim.
Depois dessa viagem não consigo andar em carros a não ser que seja no banco da frente e não posso olhar para os lados, pois corro o risco de expulsar o conteúdo do estômago.
Se tenho saudades da rural do nono? Tenho, sim. Saudades daquele tempo tão quieto, onde tudo andava com mais calma, onde eu podia marcar cada passo que era dado, guardar cada sorriso, cada lágrima, sem correr o risco de ficar sem tempo. Tenho saudades, sim. Muitas! Saudades até da rural do nono.
odeteronchibaltazar
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3 comentários:
Odete, amei esta história da rural do nono. Que coisa legal.Mesmo tendo te deixado até hoje com a conseqüência de ter de andar sempre no banco da frente e não poder olhar para os lados,tem mesmo que sentir saudades.
Coisa boa é tempo de criança, não?
bjos,Tania
Oi queriiiiiiiida vim te ver .. tá muuuuuuuito legal. Parabéns
beijos Oilan
Eu já conhecia essa história...
A fé move montanhas.
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