quinta-feira, novembro 10, 2016


Tão só!

odete ronchi baltazar
Era como se estivesse só.
Ele, entretido com seus pensamentos, não percebia mais sua presença.
Ela já se acostumara a ficar sozinha a dois.
Tão pouco falava que foi perdendo as palavras, secando as frases, apagando os verbos.
Agora, sentada em frente à tv, rumina sonhos que, bem sabe, nunca haverão de ser.
Com esforço se levanta do sofá rasgado e vai para a cozinha.
Arrasta os velhos chinelos, senta-se na cadeira carcomida pelo tempo e, mais uma vez, só, serve-se da comida fria mastigando a solidão.

sexta-feira, novembro 04, 2016


Cor-da-alegria
Em amarelos
meu dia desperta...
E a poesia, 
que faz coceiras em meus dedos,
escorre pelos muros cinzentos,
ensolarando minhas tristezas que,
em frias folhagens, se escondiam.
Visto a cor da alegria
e saio,
em saltitos,
afugentando
meus escuros e meus medos.
Hoje,
pelo menos hoje,
serei uma boa companhia.
odete ronchi baltazar

quarta-feira, setembro 07, 2016


I love clic

Gosto de tirar fotos, sem poses ensaiadas, sorrisos forçados.
Gosto de clicar o instante surpresa, o sorriso meio torto, a boca espantada, o olhar perdido, os cabelos ao vento com fios desarrumados e brilhantes ao sol.
Tem mais verdade aquele sol iluminando somente parte do rosto. Há um mistério na outra face escondida na sombra.
Os gestos eternizados em seus movimentos, estáticos para sempre.
As bochechas infladas na hora do apagar das velas do bolo de aniversário. O sorriso sem graça depois. O som das palmas fugindo no tempo.
Gosto  das nuvens que trocam de formas, do vento que agita as sombras, o sol que se esconde.
Gosto das peripécias dos gatos flagrados em arteirices mil.
O instântaneo marca para sempre o tempo fugidio.
O que me interessa é o tempo capturado num clic único.
Momento estacionado.
Gesto congelado.
Imobilidade para sempre. 

terça-feira, setembro 06, 2016


Toque
 
odete ronchi baltazar
 
Tua pele
doce pecado
enlevo
fusão
eriça meus pelos
tempera
meus gestos
desliza na mão
 
Tua pele
amorna
esquenta meus dedos
seduz
queima
sem moderação
 
Tua pele
Blue Velvet
teatro
prazer e mistério
espinho
mera ilusão.

sábado, agosto 27, 2016


Fervente
 
odete ronchi baltazar
 
E este sol
me põe em polvorosa
à espera
nem sei mais do quê.
Só sei que palpito inteira
e dói-me o peito
e ferve a alma
na ânsia de te querer.

sexta-feira, agosto 26, 2016


Peripécias
 
odete ronchi baltazar
 
E há dias
que danço, 
saltito,
infernizo,
satirizo
na tua mão.
 
Dias há
que ouço,
que vejo,
que sinto
liberdades
saídas da prisão.
 
Há dias
açucarados,
salgados,
temperados,
prontos
para refeição.
 
Se há dias,
há noites
insones,
quentes,
de pimenta,
de sal
e de ebulição.

quinta-feira, agosto 25, 2016


Pura teimosia
 
odete ronchi baltazar
 
É engano
dizer que esqueci.
É mentira falar
que não mais te quero.
Verdades...
Insisto!
Ainda te amo -
tudo o mais é lero-lero.

quarta-feira, agosto 24, 2016


des(Atando)
Pensei que seria fácil
des(atar)-me os nós
que a ti me prendiam,
mas qual!
A cada movimento teu
mais me sentia volátil,
mais eu era tu,
mais éramos nós.
odete ronchi baltazar

terça-feira, agosto 23, 2016


Sem (cor)(ação)
 
odete ronchi baltazar
 
E terminou
o que nem conseguiu germinar.
Das mãos ávidas
ficou o gesto no ar.
Pintura mal feita,
traços
linhas
tons,
tela sem coragem
de brilhar.

segunda-feira, agosto 15, 2016


Janelas das lembranças azuis
 
odeteronchibaltazar
 
Esse retrato em preto e branco me faz lembrar das janelas que se abriam para a serra onde, todos os dias, eu via o sol se deitar.
Eram azuis como os céus de inverno e as manhãs frias.
Eram largas e altas e eu podia ver os caminhantes na rua poeirenta em bicicletas silenciosas e calmas.
Eram janelas da minha alma por onde entravam os ventos do sul e as folhas de outono.
Janelas que conversavam com os vizinhos e que estendiam cobertores e travesseiros ao sol.
Janelas que me escondiam das trovoadas e ventanias e que me deixavam ver as estrelas nas noites de verão.
Eram azuis as janelas da casa onde eu vi passar a minha meninice.
São azuis as minhas lembranças guardadas nos álbuns de fotografias.
É azul a minha saudade...

sábado, agosto 13, 2016


Manhã
 
odete ronchi baltazar
 
Ainda no escuro do dia que se avizinha
há uns raios tímidos de cores.
Recolho-me de prazer.
Me escondo dos cochichos,
grilos e outros bichos.
Canto em surdina
pra não acordar de vez.
E na névoa que me dissolve,
diviso
o que a natureza fez.

sexta-feira, agosto 12, 2016


Na virada do tempo
 
odeteronchibaltazar
 
Nas mãos,
o arco-íris
espalhando tons
sobre o papel em branco.
Palavra verte
a alma em cores.
Cada espaço
se preenche com nuances
e matizes:
ora sombras, ora luz
ora verbos ora azul,
às vezes, para sempre,
em outras, instantes.
Sigo sob signos,
significados,
amantes.
Fui, foste.
Já nada é como era antes.
 

quinta-feira, agosto 11, 2016


Melancólica

odete ronchi baltazar

Não tenho mais a palavra
a mão e a lavra.
Não tenho mais o ritmo,
o som e o íntimo.
Foram-se
quando saíste
porta afora.
Tristeza fez morada
em meu dia
e nunca mais foi embora.
Hoje,
destilo o choro
na melancólica poesia.
 

quarta-feira, agosto 10, 2016


E o tempo se esvai
 
odeteronchibaltazar
 
Anos e anos se foram....
Muitos!
Tudo passou tão depressa!
 
Não me dei conta
dos caminhos que percorreram meu corpo,
marcando-o para sempre.
O espelho revela alguém que não mais conheço com tantos traços e sulcos.
 
Cadê a menina que sonhava
com o primeiro beijo?
Cadê a normalista em saia de prega azul-marinho?
Cadê a menina-moça que,  escondida, escrevia diários?
Onde está a mocinha apaixonada pelo professor de inglês?
 
Onde a universitária hippie das batas e cabelos escorridos, da cara lavada e descompromissada?
Onde foi parar a moça que se apaixonava todos os dias?
Onde? Onde?
 
Procuro no reflexo do espelho
e vejo, lá no fundinho, as tantas que já fui. 
Amalgamadas, somadas, grudadas, misturadas,
formando uma só, agora.
 
Para todas não tem mais volta.
Estou só...

As outras foram embora.

terça-feira, agosto 09, 2016


Poesia
 
O sopro,
a mágica,
a criação.
 
O verbo nascido.
 
A vida
 em suspenso
na minha mão.

segunda-feira, agosto 08, 2016


Gélido

odete ronchi baltazar

Foi embora o verão
restou um frio cortante
sobraram restos de luz
aqui e ali.
Foi embora a razão.
Fiquei com o destino
traçado
a duras penas
em minha mão.

domingo, agosto 07, 2016


Saudade
 
odete ronchi baltazar
 
A tristeza se insinuou nas primeiras horas quando a noite mal dormida acabou e o sol tentou aparecer de dentro das nuvens.
A dor continuou a latejar e nem o café despertou a cura...
Um dia, um outro qualquer (entre tantos!). 
..............
O dia haveria de ser longo. 

Estenderia a saudade nos varais da manhã.

quinta-feira, agosto 04, 2016



Foi uma vez
 
odete ronchi baltazar
 
Não quero mais
a presença.
Dói de(mais).
 
Não quero mais teus olhos.
Esse amor refle(tido)
já não pode ser.
 
Não quero mais palavras doces.
Já apaguei seus significados.
 
O tempo selou minha boca,
não quero mais os beijos.
 
Não quero mais a lágrima
nem o amor repetido.
 
Não quero mais! Insisto!
Não quero mais... Reflito...
Não quero mais. Ponto final.


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