terça-feira, maio 24, 2005
Muito além do jardim
odeteronchibaltazar
Há vinte anos o bairro onde moro tinha o triplo de vegetação de hoje que, por conta das novas construções, acabam sendo substituídas por espaços limpos, higiênicos e sem natureza alguma. Ninguém quer dispensar os cuidados que um jardim ou pomar requerem. Ninguém quer ver folhas pelo terreiro. Então acabam com tudo que possa ter o tom de verde e a cidade inteira vai se tornando cinza.
Sou apenas uma anônima defensora da natureza e seus benefícios. E nem sei se adianta fazer propaganda disto neste mundo interesseiro e frio, mas amo o verde-natureza.
O meu jardim é uma grande área em volta da casa. Tem árvores enormes e com uma certa idade, que vou podando conforme a necessidade mas que, na maior parte do tempo, são deixadas à vontade para crescerem livres. No inverno, as que ficam no jardim da frente, ficam peladinhas e as folhas secas são em grande quantidade, por isso precisa de um jardineiro pelo menos três vezes por semana.
Na primavera, o jardim de trás fica forrado com as folhas do jambolão (jamelão, baguaçu) e sua nuvem de flores. Em janeiro, são os seus frutos que colorem tudo de roxo.
Minhas árvores são intocáveis e vez por outra acabo tendo uma 'discussão' com os vizinhos que reclamam da sombra, das folhas secas, dos frutos...
Não corto, não sacrifico. Quando muito, permito uma poda para evitar maiores confusões. E assim, vivo rodeada de verde, de pássaros, borboletas, abelhas, cigarras, gambás, gatos e cães.
Plantei árvores frutíferas em pleno jardim e assim sempre tenho alguma frutinha pra beliscar. São araçás, cortiças, cerejas, pitangas, bananas, ameixas, lichias, mamão, acerola, cambucá, goiaba, laranjas, jaboticabas, anonas, tucum...
E tem as flores. Em cada época florescem diferentes espécies. As flores dos cinamomos perfumam o jardim no início da primavera. Os jasmins (gardênias), abrem-se em branco perfume nesta época do ano. As flores dos mamoeiros são uma delícia. As das laranjeiras têm perfume de anjos. As do ipê-amarelo são ouro no gramado.
Chamamos carinhosamente este nosso canto de "Paraíso" pois é aqui que nos rendemos ao sossego e aos afazeres da vida doméstica com tranqüilidade.
Enquanto eu viver, manterei este recanto em verdes e flores e acredito que será o oásis deste mundo feito de concreto e asfalto.
E a natureza me acolhe: conto os pássaros da minha janela e dou bom dia à rolinha que escolheu o tucunzeiro em frente ao meu quarto para morar, colho flores e perfumo a casa. E enquanto escrevo, os bem-te-vis gritam faceiros ao redor do ninho, o sabiá chama sua companheira para o namoro, o sinhaçu belisca o mamão e os canarinhos brincam nos beirados.
Tem cenário mais perfeito?
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